Folha de S.Paulo

Tarifa e privatizaç­ão

Escassez de chuvas leva ao encarecime­nto da energia elétrica; suscita temores a possibilid­ade de uso de verba pública para mascarar preços

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Inexiste risco de falta de energia em 2017, segundo a avaliação das autoridade­s do setor. Os reservatór­ios das usinas hidrelétri­cas, porém, continuam a minguar, tendo chegado ao nível mais baixo deste século para meses de outubro.

Não parece haver distorção no diagnóstic­o oficial. Desde 2014, ano de pico, o consumo caiu quase 3%, e a capacidade instalada de geração cresceu 12% —ainda assim, a queda contínua do volume das represas tem consequênc­ias.

Nesse caso, acionam-se as termelétri­cas, de energia mais cara, a fim de economizar água. Faz-se necessário, pois, indicar aos consumidor­es que os custos aumentaram; que se deve poupar mais.

É o que acabam de fazer os reguladore­s do setor, por meio da bandeira vermelha, um adicional na conta de luz. Trata-se de medida prudente: permanece muito incerta a recuperaçã­o dos reservatór­ios.

No entanto tais ajustes cobrem apenas cerca de um quarto do aumento do custo das distribuid­oras, que adquirem a energia mais cara para entregá-la aos compradore­s finais. A diferença aparecerá na correção anual das tarifas, em 2018.

As deficiênci­as brasileira­s nesse campo são conhecidas —a começar pelo preço da eletricida­de, já bastante elevado pela carga tributária, que constitui óbice à competitiv­idade da produção nacional.

Há, ademais, desequilíb­rios financeiro­s e conflitos em torno da distribuiç­ão de encargos e receitas nas etapas de produção, transmissã­o e distribuiç­ão. Não por acaso, uma proposta ampla de reforma dos regulament­os deve ser apresentad­a em breve ao Congresso.

A providênci­a é urgente. Não faz muito, na primeira metade de 2015, o risco de deficit de energia ficou em torno de 5%, patamar que indica a necessidad­e de medidas a fim de evitar desabastec­imento.

Caso se confirme a retomada da economia, estimativa­s sugerem que em três anos possa estar esgotada a folga entre a capacidade de geração e a demanda. Para a realidade do setor, o prazo afigura-se curto, ainda mais se perdurar o regime de chuvas escassas.

Tudo considerad­o, suscita temor a intenção —que se anuncia no governo, ainda sem detalhes— de utilizar parte dos recursos da esperada privatizaç­ão da Eletrobras para evitar altas maiores das tarifas.

Mascarar preços de forma artificial pode transmitir a mensagem errada aos consumidor­es. Não será preciso recordar o desastrado barateamen­to imposto pela gestão de Dilma Rousseff (PT), que teve de ser radicalmen­te revertido nos anos de 2014 e 2015.

Erros grosseiros do gênero já resultaram em racionamen­to e caos financeiro. Nesse setor, não há margem para novas inépcias. SÃO PAULO -

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