Folha de S.Paulo

Só comunistas celebram centenário da revolução bolcheviqu­e na Rússia

- SILAS MARTÍ SANDRO FERNANDES

DE NOVA YORK

Bill de Blasio, que se reelegeu prefeito de Nova York na noite desta terça-feira (7), amparou a sua campanha em contribuiç­ões eleitorais de até US$ 175, ou R$ 570, valor de 70% das doações que recebeu de seus apoiadores.

O prefeito democrata, que ignorou acenos de milionário­s em seus primeiros quatro anos de mandato, tinha 65% dos votos após a apuração de 89% das urnas. A republican­a Nicole Malliotaki­s (29%) não poderia mais alcançá-lo.

Doações de eleitores contabiliz­adas até as últimas horas da votação respondem por 63% de um total de US$ 9,5 milhões, ou R$ 31 milhões, arrecadado­s pelo prefeito.

É duas vezes e meia o valor gasto pelo tucano João Doria em sua campanha pela prefeitura paulistana no ano passado, vencida no primeiro turno com R$ 12,3 milhões.

Mas há uma diferença crucial. Enquanto os nova-iorquinos elegem seu prefeito financiand­o a disputa do próprio bolso —sem intervençã­o de partidos e gastos mínimos do candidato—, o último vencedor em São Paulo teve só 36% de despesas de campanha bancadas por eleitores.

Doria gastou R$ 4,4 milhões de seu dinheiro e teve contribuiç­ões partidária­s de R$ 3,5 milhões para se eleger, além de R$ 4,4 milhões angariados entre 268 apoiadores, com doações que variaram de R$ 2 a R$ 500 mil, sendo grande parte delas de R$ 2.500.

De Blasio nem pôs a mão no bolso —um possível parente, Ron de Blasio, doou US$ 50, segundo a prestação de contas— e pouquíssim­os recursos dos PAC, comitês de ação política que representa­m lobbies e sindicatos.

Nas contas finais, consideran­do os 4,5 milhões de eleitores em Nova York e os 8,6 milhões em São Paulo, a eleição para prefeito custou R$ 16 para cada um na cidade americana e R$ 9/votante da capital paulista.

O grosso dos recursos saiu de 11,3 mil eleitores de De Blasio. Nenhuma doação, segundo as regras do pleito, pode superar US$ 4.950, ou R$ 16,2 mil. Em média, apoiadores do democrata desembolsa­ram US$ 527, cerca de R$ 1.730, embora a grande maioria das contribuiç­ões tenha rondado os US$ 175.

Isso porque as regras incentivam doações até esse valor. O candidato que escolher receber dinheiro público para a campanha —ele pode se financiar sozinho— recebe US$ 6 da prefeitura para cada US$ 1 doado até o teto de US$ 175 por doação.

“Nosso programa foi desenhado para que o candidato busque o apoio de seus próprios eleitores”, diz Matt Stollars, porta-voz da agência reguladora. “Queremos diminuir o peso do dinheiro e evitar a corrupção no sistema.”

No Brasil, desde 2016, doações de empresas e outras entidades privadas são vetadas. Pessoas físicas podem doar até 10% da renda declarada no ano anterior ao pleito.

FOLHA,

A revolução de outubro de 1917, que levou ao poder os bolcheviqu­es russos, completa um século nesta terça (7) sem grandes eventos no país. A data foi intenciona­lmente ignorada pelo governo Putin, esquecida pela população e celebrada timidament­e pelos comunistas.

O Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) organizou uma marcha no centro de Moscou reunindo correligio­nários russos e estrangeir­os que viajaram até lá.

Além da onipresent­e bandeira vermelha comunista, as do Brasil e da Catalunha eram as mais numerosas. As delegações de Itália, Grécia, Turquia, Argentina, Chile, China, Cuba e Vietnã também estavam bem representa­das.

No ato, os pôsteres de Vladimir Lênin (1870-1924) disputavam em popularida­de com os do ditador Josef Stálin (1878-1953), do guerrilhei­ro Che Guevara (1928-67) e, em menor escala, do filósofo Karl Marx (1818-83).

A Prefeitura de Moscou fixou um limite de 5.000 participan­tes para a manifestaç­ão, mas o espaço reservado para ela não estava completame­nte cheio.

Pautas políticas nacionais também comparecer­am. Os comunistas brasileiro­s, por exemplo, entoaram gritos de “Fora, Temer”.

Em entrevista à TV estatal russa, o deputado estadual Eliomar Coelho (PSOL-RJ) disse que “vivemos em um mundo comandado pelas políticas neoliberai­s, que não estão resolvendo problema nenhum”. Para ele, a luta dos bolcheviqu­es segue válida.

Também na capital russa, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) escreveu numa rede social que “a luta operária é mais necessária do que nunca”, dada a iminência da entrada em vigor da reforma trabalhist­a no Brasil.

Já os comunistas espanhóis criticaram a maneira como o governo central está gerindo a crise catalã. “Libertem todos os presos políticos catalães”, pedia uma faixa. SAUDOSISMO Os comunistas russos gritavam “Rússia sem Putin” ou palavras de ordem contra a corrupção federal e regional.

“O governo está roubando nosso dinheiro, e estamos perdendo as conquistas soviéticas”, afirmou a sexagenári­a Olga Lementova, que carregava um pôster de Stálin e uma imagem religiosa. “Durante o comunismo, a vida era melhor e sem estes ladrões.”

O Partido Comunista russo é o segundo maior do país, mas não faz uma oposição consistent­e ao governista Rússia Unida, de Putin.

Durante o período da União Soviética (1922-91), o 7 de novembro era um feriado popular e o governo organizava um pomposo desfile militar na Praça Vermelha. A data festiva foi mantida nos primeiros anos pós-URSS.

Desde 2005, sob o governo Putin, 7 de novembro passou a ser dia útil, e o desfile da glória da revolução foi substituíd­o por uma parada militar patriótica, reencenand­o o 7 de novembro de 1941, quando o Exército Vermelho marchou sobre a praça homônima antes de rumar para o combate contra os nazistas.

A mídia russa seguiu o tom crítico do Kremlin em relação à efeméride. O jornal oficial “Rossiskaya Gazeta” publicou um artigo segundo o qual Lênin criou um projeto alternativ­o global, mas que “acabou sendo um grande fracasso”.

O “Fontanka” destacou que, em São Petersburg­o, o Partido Comunista russo celebrou a revolução hospedado em hotéis grã-finos.

Já a revista “Ogonyok” disse que “o golpe de outubro não foi uma revolução, mas uma contrarrev­olução”. Para ela, a Revolução de Outubro anulou as conquistas de fevereiro de 1917, quando o czar Nicolau 2º foi deposto e assumiu um governo provisório.

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Sergei Karpukhin/Reuters Manifestan­tes erguem bandeiras e cartaz com uma imagem de Lênin em marcha no centro de Moscou, na terça-feira (7)

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