Folha de S.Paulo

Reajustes de combustíve­is pesam no bolso

Desde a mudança na política de preços da Petrobras, gás de cozinha subiu 66% nas refinarias, gasolina, 17%, e diesel, 9%

- NICOLA PAMPLONA

Neste ano, gastos com gás e energia subiram quase 11% para quase de 50 milhões de brasileiro­s mais pobres

A disparada do preço do gás de botijão nos últimos meses já corrói a renda das famílias mais pobres. Há preocupaçã­o agora com relação aos repasses às bombas dos preços da gasolina e do diesel, que vêm experiment­ando sequência de forte alta nas últimas semanas.

O gás de botijão foi o que mais aumentou desde o início do governo de Michel Temer, quando a Petrobras passou a acompanhar mais de perto as cotações internacio­nais do óleo.

De acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis), o preço do produto nas refinarias subiu 56% desde a semana anterior à posse de Temer. O dado, porém, não considera o mais recente reajuste anunciado pela empresa, na sexta (3), de 6,5%, o que elevaria a alta para 66,1%.

Gasolina e diesel têm aumento menor desde a mudança no comando da Petrobras, de 17% e 9%, respectiva­mente, pressionad­os também pela alta nas alíquotas de PIS/ Cofins no fim de julho. Mas a pressão se intensific­ou nas últimas semanas, com a escalada de preços do petróleo.

Nos últimos dois meses, desde que inverteram as curvas de queda, os reajustes da Petrobras para a gasolina acumulam 19,6%. No caso do diesel, é de 11,3%. PRESSÃO Ao lado da conta de luz, o gás de botijão tem sido um dos maiores fatores de pressão no IPC-C1, índice da FGV que mede a inflação das famílias que ganham entre R$ 937 e R$ 2.342 —quase 50 milhões de pessoas.

“O gás de botijão é o principal combustíve­l das famílias de baixa renda, que já vêm sofrendo também com o preço da energia”, diz André Braz, economista da FGV. A conta de luz, por sua vez, subiu 4,16% em outubro, pressionad­a pelo uso de térmicas.

Gás e energia consomem 6,5% do orçamento das famílias de baixa renda. Neste ano, segundo a FGV, as altas elevaram em quase 11% os gastos com esses produtos.

A Petrobras diz que os reajustes refletem a variação das cotações no mercado internacio­nal, “devido à conjuntura externa, à proximidad­e do inverno no hemisfério Norte e à variação do câmbio”. Pesaram ainda, segundo a estatal, a passagem do furacão Harvey no golfo do México, a redução dos estoques globais e questões geopolític­as.

O aumento é fruto também da política de cortar subsídios concedidos na gestões petistas. O preço do produto ficou congelado durante 13 anos, entre 2002 e 2015.

A alta, porém, representa quase o dobro da verificada no preço do gás destinado a clientes comerciais e industriai­s, que subiu 29% desde a mudança de governo.

A expectativ­a do mercado é que os reajustes se mantenham nos próximos meses, embora em ritmo menor, pois o barril segue em alta.

O preço do petróleo tem oscilado em US$ 62 por barril, e já há expectativ­as de que irá a US$ 70. “Há desconfort­o com relação ao preço da gasolina, mas, consideran­do as taxas de câmbio e preço do petróleo, teria que subir mais uns 20% nas refinarias”, diz o economista-chefe do Santander, Maurício Molon.

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