Juntas, grandes produtoras de carne poluem mais que Alemanha
Estudo sobre emissão de gases-estufa foi divulgado na COP-23
FOLHA,
Por trás das caras inocentes do bife no almoço e do leite no café da manhã está uma cadeia produtiva responsável por uma boa parcela das emissões de gases causadores das mudanças climáticas.
Apenas três produtoras de carne —JBS, Cargill e Tyson— emitiram mais gases-estufa em 2016 do que toda a França e quase tanto quanto algumas das maiores companhias de petróleo, segundo um novo estudo lançado no início das principais negociações climáticas da ONU em Bonn, Alemanha —o maior emissor de carbono da Europa.
Ainda assim, o país emite menos do que as 20 maiores empresas de carne e laticínios do mundo. A maior delas é a brasileira JBS.
A criação de gado no Brasil está intimamente ligada ao desmatamento e às emissões de carbono, já que 65% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens, conforme os dados do Imazon, ONG que monitora desmatamento.
“Além da grande área utilizada para a produção de gado, boa parte da área utilizada para agricultura é também destinada à produção de grãos para ração animal”, ressalta Cristiane Mazzetti, especialista do Greenpeace sobre Amazônia e desmatamento.
Para ela, a solução para diminuir o impacto da atividade no clima passa pelo rastreamento e pelo controle das cadeias produtivas.
O autor do estudo, porém, lembra que as emissões da JBS ultrapassam o território brasileiro, com uma produção global. E o problema estaria justamente aí. Devlin Kuyek, da ONG Grain, defende priorizar um modelo de negócio local como saída para o setor.
“As grandes empresas globais estão altamente subsidiadas em um punhado de países onde esses produtos já são super consumidos. Eles exportam seus excedentes em produtos processados e menos saudáveis para o resto do mundo, erodindo milhões de pequenos agricultores que poderiam garantir a segurança alimentar dos seus povos.”
As emissões do setor de carne e laticínios são calculadas pelo IPCC (Painel IntergovernamentaldaONUparaMudanças Climáticas), junto a emissões relacionadas a um grupo maior —agricultura, florestas e mudança do uso da terra.
Apenas o setor da pecuária pode ser responsabilizado por 15% das emissões de gases-estufa do mundo. “Se fosse um país, seria o 7º maior emissor”, compara Kuyek. Procurada para comentar o estudo, a Associação Brasileira de Frigoríficos preferiu não responder.
Para chegar aos números do ranking, a pesquisa usa a estimativa da FAO (Organização da ONU para Agricultura e Alimentação) sobre as emissões da produção de carne em cada região do mundo e a multiplica pela quantidade de carne e laticínios produzida anualmente no mundo.