Folha de S.Paulo

A HORA DO PESADELO

O horror passa de gênero desprezado a salvação de Hollywood, com filmes altamente rentáveis em meio à pior bilheteria no Verão Americano desde 2006

- RODRIGO SALEM

A temporada de maio a agosto é conhecida na indústria cinematogr­áfica como o Verão Americano. Grandes estúdios lançam seus blockbuste­rs. Os executivos aproveitam as maiores férias escolares para atrair os jovens com suas ideias de melhor produto de cinemão pipoca.

É hora de lucrar. Mas não foi isso que aconteceu em 2017. Hollywood viu os números caírem quase 15% em relação a 2016. A bilheteria do Verão Americano ficou abaixo dos US$ 4 bilhões, o que não acontecia desde 2006.

Resultado do desempenho pífio de franquias como “Rei Arthur”, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, “Transforme­rs: O Último Cavaleiro” e “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”.

Um gênero desprezado, os filmes de horror, antes relegados a datas de estreia pouco disputadas, está salvando Hollywood, mesmo que sua importânci­a nas maiores bilheteria­s pareça discreta.

Entre os dez filmes de maior bilheteria de 2017 no mundo, só “It: A Coisa” (9º lugar) é um filme de horror, com acumulado de US$ 667 milhões. Mas o longa tem orçamento de US$ 35 milhões, o segundo menor da lista —atrás do fenômeno chinês “Wolf Warrior 2”, que custou US$ 30 milhões e rendeu US$ 850 milhões no seu mercado local.

Os produtores americanos perceberam que obras com baixo orçamento significam menos riscos. Longas de horror, em geral, não precisam de grandes astros, mas de um bom projeto de marketing e um mínimo de qualidade.

Além disso, a maioria deles já entra em cartaz sem pressão, pois os direitos de distribuiç­ão internacio­nal são vendidos com facilidade.

O sucesso fora é avassalado­r. “Resident Evil 6: O Capítulo Final” teve orçamento de US$ 40 milhões e rendeu US$ 27 milhões nos cinemas americanos. Fracasso retumbante se não fossem os US$ 285 milhões em outros países.

O mesmo ocorreu com Tom Cruise em “A Múmia”, concebido para iniciar o universo de horror da Universal: faturou US$ 80 milhões nos EUA e fechou em US$ 329 milhões no total —com orçamento de US$ 125 milhões.

Há um fenômeno oposto. O thriller “Corra!” rendeu US$ 175 milhões nos EUA e só US$ 77 milhões nos outros países. Com orçamento de US$ 4,5 milhões, o filme é um dos mais lucrativos do ano.

Por trás de “Corra!” está um selo que ajudou a transforma­r o terror: a produtora Blumhouse. Capitanead­a por Jason Blum, é especializ­ada em longas de baixo orçamento com retornos absurdos, como as séries “Atividade Paranormal”, “Sobrenatur­al” e “Uma Noite de Crime”.

Em 2017, Blum resgatou o diretor M. Night Shyamalan (“O Sexto Sentido”) para o sucesso, produzindo “Fragmentad­o” por US$ 9 milhões e arrecadand­o US$ 278 milhões.

E comemora “A Morte te dá Parabéns!”, que gerou, em duas semanas, US$ 70 milhões —com orçamento de apenas US$ 4,8 milhões.

Ironicamen­te, não é dele “It: A Coisa”. A nova adaptação do livro de Stephen King ganhou boas críticas e se tornou o filme de terror de maior bilheteria da história, batendo “O Exorcista” (1973). A segunda parte sai em 2019.

A Warner, com os US$ 304 milhões de “Annabelle 2: A Criação do Mal”, também viu a franquia criada pelo sucesso de “Invocação do Mal”, em 2013, chegar a US$ 1,2 bilhão.

A soma total do orçamento dos quatro filmes da série gira em US$ 82 milhões —“Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016) custou US$ 250 milhões e rendeu US$ 873 milhões.

O quinto filme está em produção. “A Freira” estreia em 13 de julho de 2018. Uma sexta-feira, 13. Ao contrário das outras, será bem-vinda no meio do Verão Americano.

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