Incluam-me fora dessa!

A AALCRF (Associação dos Amigos e Leitores da Coluna do Reinaldo Figueiredo) costuma promover reuniões mensais na sua sede provisória, um velho galpão na Gamboa, zona portuária do Rio de Janeiro. Mas, na semana passada, eles convocaram uma assembleia geral extraordinária e disseram que a minha presença seria fundamental. Respondi que não poderia comparecer porque naquele dia eu tinha que levar minha avó na musculação, mas eles insistiram tanto que acabei topando.

Dessa vez a coisa foi um pouco tensa. Tudo porque a maioria dos membros da associação queria que eu lançasse minha candidatura à Presidência da República. Minha primeira reação foi, é claro, dizer em alto e bom som: “Nem pensar! Incluam-me fora dessa!”. Mas aí um representante da entidade começou a argumentar, dizendo que eu tinha muita experiência e um ótimo currículo. Afinal, disse ele, eu já tinha cumprido o mandato presidencial de Devagar Franco.

Eu não acreditava no que estava ouvindo. E fiquei ainda mais perplexo quando a assembleia em peso começou a aplaudir o orador. Aí eu falei: “Calma, minha gente! Vocês estão loucos? Isso não faz o menor sentido!”. Nisso, um outro membro da entidade se levantou e disse que eu não poderia fugir à minha responsabilidade numa hora dessas, em que o país está órfão de lideranças, e que se eu recusasse a missão, isso seria uma torpe traição ao povo brasileiro.

Com muita paciência, tentei fazer o pessoal cair na real, explicando que o fato de fazer um personagem num programa humorístico não credencia ninguém a ser candidato a presidente. Aí um outro membro da associação me interrompeu para lembrar que a minha vivência no mundo da política era muito mais ampla. Ele lembrou que eu tive outra experiência presidencial, vivendo não só o personagem Cheirando Collor de Mello como também sua primeira dama, Rosane, usando peruca loura, sapatos de salto alto e um vestidinho vermelho. De passagem, o orador comentou que eu fiquei até “gostosa” nesse personagem.

A essa altura do campeonato, a reunião já se estendia pela madrugada e, alegando cansaço, pedi licença para me retirar. Mas, para não deixar os ânimos mais exaltados, me despedi dizendo que ia pensar no caso e que a gente voltaria a tratar do assunto numa próxima reunião.

O fato de ter cumprido o mandato de Devagar Franco não me credencia como candidato à presidência