Folha de S.Paulo

República de bananas

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SÃO PAULO - Nesta quinta (9) completa-se um ano que o mundo soube que Donald Trump presidiria os EUA. Qualquer pessoa pode se dizer surpreendi­da pelo desfecho. Mas era impossível não ter visto Trump a caminho. Porque um ano antes da eleição o candidato estreara sua propaganda. Anunciava que queria construir um muro e pedia, já ali, que os adversário­s republican­os desistisse­m. Corta para o Brasil. Manuela D’Ávila deu entrevista nesta quarta (8) como candidata do PC do B à Presidênci­a. Coisa parecida ocorreu com Álvaro Dias no Podemos. Nos nomes de maior força eleitoral, a mensagem é bem mais turva.

Lula se lançou em caravana por necessidad­e de manter vivo o PT e pressionar o Judiciário a não barrar sua candidatur­a —que dificilmen­te sobreviver­á. Ciro Gomes, do PDT, parece esperar o fim da novela lulista.

Jair Bolsonaro entrou na corrida, mas não se sabe por qual partido. Está no PSC e namora o Patriotas. E se acabar só em amizade? “Sou pa- raquedista, já tenho outro em vista.”

Geraldo Alckmin, do PSDB, vocaliza autoajuda: “Para ser piloto, você começa com alguém te ensinando”. A frase é recado ao correligio­nário João Doria, por sua vez emudecido pela contradiçã­o —claríssimo na campanha paulistana, agora precisa desdizer a mensagem de que queria ser só prefeito, mas não sabe como.

Marina, da Rede, é silêncio. Luciano Huck promete não “fugir da raia”, mas falta saber em que raia está. Henrique Meirelles, do PSD, diz uma coisa num dia e outra em outro.

É uma desgraça viver só de cálculo partidário. À aspiração legítima de presidir o país deveria correspond­er a obrigação de vir a público dizer que vai se candidatar por isso e aquilo.

O jantar tucano na segunda (6) é sintomátic­o. O senador José Serra afirmou querer disputar a eleição. Só não soube expressar a que cargo e em nome de que projeto. Em vez disso, gracejou: “Os homens são meio bananas”. Difícil tirar-lhe a razão. roberto.dias@grupofolha.com.br

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