Folha de S.Paulo

Clandestin­a, antena gigante aparece no horizonte do Monumento às Bandeiras

- ROGÉRIO GENTILE

DE SÃO PAULO

O Monumento às Bandeiras, um dos principais símbolos da cidade de São Paulo, ganhou um vizinho incômodo e clandestin­o.

Trata-se de um estrutura de sustentaçã­o de uma antena transmisso­ra de televisão que passou a preencher o campo visual de quem tenta observar a escultura.

O equipament­o foi instalado sem autorizaçã­o da Prefeitura de São Paulo e dos órgãos responsáve­is pelo patrimônio histórico. Fica sobre o imóvel 49 da avenida Brasil, no Jardim América e, segundo a empresa proprietár­ia, tem 10 metros de altura.

O monumento é tombado desde 1985, e nada pode ser erguido em seu entorno sem autorizaçã­o do Condephaat e do Conpresp, órgãos, respectiva­mente, do governo do Estado e da prefeitura.

A regra existe justamente para que nada seja feito de modo a atrapalhar a visibilida­de de um bem importante do ponto de vista histórico, cultural ou artístico.

A estrutura está também na área de influência do tombamento do parque Ibirapuera e o dos Jardins.

Nada disso, no entanto, impediu a sua construção pela Sociedade de Comunicaçã­o Educativa e Cultural Menotti Del Picchia.

A empresa responde pelas emissoras ZTV e TV8 —a última transmite a Rede Século 21, ligada à Igreja Católica. Amaury Jr. chegou a gravar uma entrevista no local com o empresário Oscar Maroni.

Questionad­a pela Folha se tinha autorizaçã­o legal para a antena, a empresa se limitou a dizer que a estrutura metálica não se trata de uma antena, pois “como se pode ver, não existem equipament­os irradiante­s.”

“Trata-se, apenas, de um conjunto de estrutura metá-

SOCIEDADE DE COMUNICAÇíO EDUCATIVA E CULTURAL MENOTTI

DEL PICCHIA

CAMILO CRISTÓFARO (PSB)

vereador lica sem quaisquer funções próprias de uma antena receptora e/ou retransmis­sora”, afirma a empresa.

“De fato, não é uma antena, é uma nave espacial”, ironizou o vereador Camilo Cristófaro (PSB), da Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal, que aprovou um requerimen­to cobrando esclarecim­entos dos proprietár­ios sobre a instalação.

Até pouco tempo atrás, a estrutura era iluminada à noite nas cores azul e vermelho berrantes. Após reclamaçõe­s dos vizinhos, a Menotti Del Picchia decidiu desligar o sistema de iluminação.

O nome da empresa, de João Zampini e Pedro Alvarenga Zampini, é uma homenagem ao escritor Menotti del Picchia (1892-1988), ativista do modernismo brasileiro.

Atribui-se justamente a Del Picchia a responsabi­lidade de ter sugerido o tema das bandeiras ao escultor Victor Brecheret (1894-1955), que finalizou o monumento em 1953, 30 anos após sua concepção.

A Prefeitura Regional de Pinheiros multou a empresa em R$ 98.800 e diz que, enquanto a situação não for regulariza­da, receberá uma nova autuação a cada 90 dias.

O Ministério Público abriu um inquérito sobre o caso.

“de um conjunto de estrutura metálica sem quaisquer funções próprias de uma antena De fato, não é uma antena, é uma nave espacial

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Joel Silva/Folhapress Antena ao fundo, no campo visual do Monumento às Bandeiras, na zona sul de São Paulo

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