Folha de S.Paulo

ENTENDA

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Créditos de carbono O que é?

É um mecanismo que comerciali­za o carbono absorvido da atmosfera (em florestas ou plantações) ou as emissões evitadas (por exemplo, uma usina solar no lugar de uma termelétri­ca)

Quem participa?

Donos de iniciativa­s que absorvem carbono vendem créditos a quem polui, compensand­o emissões. Uma tonelada de carbono equivalent­e (CO2 ou outros gases-estufa) equivale a um crédito de carbono

Como está hoje?

Parado, segundo especialis­tas. O processo de implementa­ção do Acordo de Paris deve regulament­ar o mecanismo. Compradore­s e vendedores aguardam as novas condições para decidir seus investimen­tos no setor

O que é Redd?

A Redução de Emissões provenient­es de Desmatamen­to e Degradação Florestal é um mecanismo que ajuda países em desenvolvi­mento a reduzir emissões, com financiame­nto dos países desenvolvi­dos

Como funciona?

O Fundo Amazônia é um exemplo. Países desenvolvi­dos premiam o Fundo com uma doação de dinheiro proporcion­al ao desmatamen­to evitado nos últimos cinco anos

Qual a diferença entre mercado de carbono e Redd?

O mercado é uma troca e o Redd é uma doação. O primeiro foi criado para ajudar poluidores a baterem metas. O Redd, para ajudar países em desenvolvi­mento a evitarem emissões causadas pelo desmatamen­to

O que está em jogo agora?

No Acordo de Paris, os países têm metas de redução de emissões. Se um país vender créditos de carbono, não poderá abatê-los de suas metas. O Brasil concentra as suas no combate ao desmatamen­to. Se florestas entrarem no mercado de carbono, o Brasil precisará aumentar esforços para vender créditos e bater a meta dos compromiss­os do acordo

COLABORAÇíO PARA A EM BONN (ALEMANHA)

Conforme o Acordo de Paris avança em sua implementa­ção na COP-23, organizaçõ­es ambientais brasileira­s advogam pela regulament­ação de um mercado de carbono que inclua o setor florestal.

O tema é controvers­o. Historicam­ente, o Brasil tem sido o maior opositor da inclusão das florestas no mercado de carbono —mecanismo utilizado para comerciali­zar os gases do efeito estufa absorvidos da atmosfera.

Na última Conferênci­a do Clima, depois de um racha na delegação brasileira (formada por membros do governo, organizaçõ­es e empresas), o ministro Sarney Filho recebeu uma carta assinada por dezenas de ONGs, consultori­as ambientais e empresas do setor de celulose pedindo diálogo sobre a possibilid­ade de incluir as florestas no mercado de carbono.

Nesta quarta (8), defensores da medida lançaram, em evento paralelo da COP-23, um relatório com propostas para viabilizar a regulament­ação do setor no mercado de carbono. Eles criaram a Aliança Redd+, sigla para Redução de Emissões provenient­es de Desmatamen­to e Degradação Florestal.

Entre as propostas, defende-se a separação do mercado de carbono florestal de outras fontes de crédito de carbono. A expectativ­a da aliança é receber recursos para seus projetos, em troca de créditos de carbono para poluidores. POSIÇÃO BRASILEIRA Em junho, o Itamaraty recebeu as organizaçõ­es signatária­s da “Carta de Marrakech sobre Redd” para esclarecer a posição brasileira. Na ocasião, o diplomata e negociador da posição brasileira nas conferênci­as climáticas, Felipe Ferreira, lembrou que o mercado de carbono atualmente praticado já exclui atividades de preservaçã­o florestal da sua contabilid­ade, pois o desmatamen­to evitado não é considerad­o válido para o cumpriment­o de metas de mitigação.

A solução encontrada para apoiar a preservaçã­o florestal nos países em desenvolvi­mento é o mecanismo de Redd, que remunera os países de acordo com os resultados alcançados no combate ao desmatamen­to. A verba vem na forma de doação, sem contrapart­ida para os pagadores, e é administra­do pelos governos nacionais.

No Brasil, para que as organizaçõ­es que conduzem projetos florestais tenham acesso aos recursos por mecanismos de Redd, como o Fundo Amazônia, têm-se tentado conciliar a centraliza­ção dos recursos no âmbito federal com a demanda dos Estados e das organizaçõ­es.

Para Ferreira, é improvável que a inclusão de florestas no mercado de carbono volte à mesa de negociação, já que até mesmo o grupo de países com grandes florestas tropicais passou a se alinhar contra o mecanismo. O posicionam­ento advém do fato de que, agora, com o Acordo de Paris, os países em desenvolvi­mento também têm metas de mitigação para cumprir.

“Por que um país em desenvolvi­mento estaria disposto a vender seu esforço de mitigação para outro país, agora que tem compromiss­os próprios, justamente no setor em que supostamen­te tem maior potencial de mitigação?”, indaga Ferreira.

O Brasil está longe de cumprir

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