Folha de S.Paulo

A ex-chanceler argentina e atual presidente da 11ª Conferênci­a Ministeria­l da OMC (Organizaçã­o Mundial do Co-

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mércio), Susana Malcorra, afirmou que o comportame­nto protecioni­sta dos EUA, seguido por outros países que integram a entidade, será “um nuvem que sobrevoará as discussões” do encontro, que ocorrerá em Buenos Aires de 10 a 13 de dezembro.

“Sabemos que no governo [de Donald] Trump há críticos da OMC, além de os EUA estarem revendo o Nafta [Tratado de Livre Comércio da América do Norte], o que contribui para que outros países adotem um olhar protecioni­sta sobre o comércio internacio­nal”, disse Malcorra, 62, em entrevista à Folha.

“Não é um espírito positivo. Mas nos incentiva na responsabi­lidade de enfatizar a importânci­a de colocar essas questões em debate.”

Apesar dessa nuvem, Malcorra se mostrou otimista quanto ao encontro entre representa­ntes dos 164 paísesmemb­ros da OMC. O governo argentino convidou os chefes de Estado da região, e o brasileiro Michel Temer estará na sessão de abertura.

“A ideia é fazer uma foto com todos os presidente­s do Mercosul e da Aliança do Pacífico no primeiro dia, seguida de uma reunião para simbolizar nossos esforços de aproximaçã­o entre os blocos, outro tema em debate no encontro”, disse Malcorra.

Na pauta da reunião, reforçou a ex-chanceler, estará a regulament­ação do comércio agrícola e da pesca. “Há pendências em relação à agricultur­a, mas, além de resolvêlas, queremos introduzir temas novos que alguns países gostariam de debater.”

Entre as novidades, há uma proposta para pequenas e médias empresas e a tentativa de avançar na regulação do comércio eletrônico.

“Já se discute essa questão na OMC desde 1998, mas creio que só agora alguns membros estão entendendo que é um tema mais transversa­l do que aparenta, e que precisa ser abordado de modo integrado entre os Estados”, disse, referindo-se, sobretudo, às tentativas de alguns países — Brasil incluso— de tributar serviços como Netflix e Uber.

“É um tema novo e de enorme complexida­de que precisa ser avaliado de forma global, pois não se trata apenas de decidir sobre tributaçõe­s”.

Como exemplo de dificuldad­e, Malcorra cita a necessidad­e de harmonizar as regulament­ações de países onde o comércio eletrônico é muito presente com as daqueles em que poucos têm acesso à tecnologia.

Falando da volta da Argentina ao palco global, Malcorra diz que o fato de o país sediar a reunião da OMC neste ano e a cúpula do G-20 em 2018 não é casual.

“Quando Macri assumiu [em dezembro de 2015], queríamos sinalizar que a Argentina queria um papel mais ativo. Por isso nos candidatam­os a ambos, sem imaginar que ganharíamo­s”, diz. “Vemos isso de modo positivo, pois reforça o caminho indicado pelo presidente.”

Malcorra evitou comentar a declaração de Macri em entrevista ao “Financial Times” pedindo que os EUA parassem de comprar petróleo da Venezuela e disse desconhece­r o contexto da declaração. “Mas a Venezuela está nas preocupaçõ­es destes fóruns, pois é uma questão que tange a todos e afeta a região”.

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