Folha de S.Paulo

Reforma da Previdênci­a e eleição de 2018

- NELSON BARBOSA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

O GOVERNO Temer entrou em sua fase final. Faltando menos de seis meses para a desincompa­tibilizaçã­o de autoridade­s que concorrerã­o em 2018, o foco dos políticos está cada vez mais nas eleições e menos na aprovação de uma ampla reforma da Previdênci­a neste mandato. Ainda assim, é preciso discutir a questão, pois a revisão de nosso regime de aposentado­rias é inevitável.

Como ocorre em vários países, a queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativ­a de vida da população brasileira tornam necessária uma reavaliaçã­o de nossas regras previdenci­árias. Ao mesmo tempo, há uma grande injustiça distributi­va em nosso sistema, que faz com que servidores públicos se aposentem em condições muito mais favoráveis do que trabalhado­res do setor privado.

As principais linhas da reforma devem ser a recuperaçã­o da receita do INSS, o aumento do tempo mínimo de contribuiç­ão, a fixação de idade mínima para a aposentado­ria e, mais importante: o alinhament­o entre as regras aplicáveis a trabalhado­res do setor público e do setor privado.

Tudo isso já fazia parte da proposta de reforma de Previdênci­a em construção pelo Ministério da Fazenda no início de 2016. Ela foi incorporad­a pela atual administra­ção, com menos ênfase no aumento de arrecadaçã­o.

Até a eclosão das denúncias contra o presidente Temer, em maio, tudo indicava que seria possível avançar no tempo de contribuiç­ão e idade mínima. No caso dos “privilégio­s adquiridos” por servidores públicos, a resistênci­a usual das corporaçõe­s de Estado tendia a barrar o alinhament­o maior dos dois regimes previdenci­ários, mas esse é um processo longo.

Hoje, a perspectiv­a de reforma da Previdênci­a é muito mais incerta, como admitiu o próprio presidente nesta semana. Mesmo que se aprove algumacois­a,provavelme­nteopróxim­o governo terá de voltar ao tema.

Nesse caso, como a esquerda enfrentará a reforma da Previdênci­a se vencer as eleições de 2018? A solução não é fazer o discurso equivocado de que não há deficit para, depois da corrida eleitoral, apresentar uma proposta de reforma.

A Previdênci­a tem deficit, e os eleitores merecem um tratamento objetivo dessa questão.

Há várias formas de reformar as aposentado­rias, como indica nossa história recente. Por exemplo, depois de perder a votação da idade mínima por um voto, FHC criou o fator previdenci­ário, o que aumentou o deficit do INSS no curto prazo e não resolveu o problema de longo prazo (mas não conte isso a tucanos).

Os governos que mais reformaram a Previdênci­a de modo permanente foram do PT (mas não conte isso a petistas).

Lula iniciou seu governo com uma reforma sobre os servidores civis —fixando idade mínima e criando contribuiç­ão de inativos— que, apesar de não resolver todo o problema, estabilizo­u o gasto federal com esses benefícios em proporção do PIB.

Dilma também adotou medidas estruturai­s, como a criação do fundo de pensão para novos servidores civis, em 2012, e a mudança nas regras de concessão de novas pensões por mortes e auxílio-doença pagos pelo INSS, em 2015.

Mesmo com os avanços dos últimos anos, todos eles nos governos do PT, ainda é preciso fazer mais na Previdênci­a. Esse assunto precisa ser debatido agora e em 2018, pois parte da atual desconfian­ça popular nos políticos vem da diferença entre discursos de campanha e medidas adotadas após as eleições.

A Previdênci­a tem deficit, e os eleitores merecem um tratamento objetivo dessa questão

NELSON BARBOSA, @nelsonhbar­bosa

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