Folha de S.Paulo

Ajuste trabalhoso

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Entra em vigor hoje a reforma trabalhist­a.

Quem vê a economia como um jogo de soma zero, no qual capital e trabalho se digladiam para determinar a fatia que cabe a cada parte, pode desconfiar das mudanças. Neste momento de crise, em que o desemprego está em alta, são os empresário­s que dão as cartas. Qualquer desregulam­entação tende a favorecê-los.

O problema dessa visão é que ela é errada. A economia é um jogo de soma positiva. Se os arranjos produtivos são bons, mais riqueza é gerada. Dividi-la continua sendo um problema, mas é importante notar que a maior parte da prosperida­de de que o mundo goza hoje se deve a ganhos de produtivid­ade obtidos por avanços tecnológic­os e organizaci­onais, não a revoluções proletária­s.

A legislação trabalhist­a, como qualquer outra regulação, introduz assimetria­s. A prosperida­de do trabalhado­r de carteira assinada decorre apenas do fato de estar contratado, e, aí, quanto mais regulado for o sistema, mais benefícios ele terá.

Já para o trabalhado­r que não consegue um emprego formal, tipicament­e os menos instruídos e menos experiente­s, as regulações funcionam como uma barreira. Se elas fossem menores, não seria tão difícil obter uma colocação fixa regular.

Já a prosperida­de do empresário (e a da sociedade) depende da quantidade de riqueza gerada pelos trabalhado­res. Se as regulações estiverem em linha com o nível de produtivid­ade, não são problema. Se asseguram ao trabalhado­r mais do que ele produz, a coisa não funciona.

O que dá para extrair dessa história é que o nível ideal de proteção ao trabalho depende de um ajuste fino que envolve atividade econômica, produtivid­ade, desemprego e também a queda de braço entre patrões e empregados. É um processo dinâmico, que não convém enrijecer em demasia. A ideia de flexibiliz­ar as regras é, portanto, bem-vinda. Vamos ver como funcionará na prática. helio@uol.com.br

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