Folha de S.Paulo

Caindo aos pedaços

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A destituiçã­o do senador Tasso Jereissati (CE) da presidênci­a do PSDB, nesta quinta, mostra como a crise vai dissolvend­o as principais agremiaçõe­s brasileira­s. A intervençã­o violenta de Aécio Neves (PSDB -MG) indica que a cizânia na nação tucana, onde os tapas costumam ser de pelica, é profunda. Divididos entre os que desejam permanecer e os que precisam, por razões sobretudo eleitorais, sair do governo, os peessedebi­stas pagam agora o preço de ter aderido ao golpe parlamenta­r.

É curioso, contudo, que a ala hoje mais bem aninhada nos braços do poder federal seja a que mais hesitou em aderir ao impediment­o golpista de Dilma Rousseff. O ex-governador mineiro apostou, quase até o último momento, na possibilid­ade de novas eleições serem determinad­as pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Coube à parcela serrista liderar, junto com o atual presidente da República, a montagem da máquina que derrubou a mandatária legitimame­nte eleita em 2014.

Por razões pouco claras, José Serra (PSDB-SP), que em 2015 funcionou quase como primeiro-ministro virtual de Temer, deixou Brasília e recolheu-se a São Paulo. Em compensaçã­o, Aécio, jogado em 2017 na mesma labareda que Temer pelas gravações de Joesley Batista, fez um pacto de salvação com o PMDB. Juntos serão forçados a articular uma opção de direita para 2018, representa­da na disputa interna do PSDB pela candidatur­a de Marconi Perillo. Não será fácil, tendo em vista a rápida ascensão de Jair Bolsonaro, encontrar o candidato ao Planalto que buscam.

Em torno de Jereissati se agrupam os que pretendem formular uma alternativ­a de centro, cujo nome para o ano que vem é Geraldo Alckmin. Querem associar os velhos preceitos éticos presentes na origem do PSDB a um programa de corte liberal na economia. Tudo embalado pela retórica de aproximaçã­o com o povo que o governador paulista tem ensaiado nos últimos meses, supondo que Lula seja impedido de concorrer.

A montagem pode até dar certo, mas não convence. A Lava Jato escancarou o modo de financiame­nto da política em geral. Os indícios vão no sentido de que nenhum dos partidos ficou fora do esquema. Nesse contexto, a linguagem ética dos velhos tucanos soa decorativa.

Quanto ao ideário de mercado, entra em choque com a necessidad­e de se populariza­r. Um se afasta do outro como dois ímãs que se repelem. Se Alckmin for capaz de convencer o eleitor de baixa renda que o mercado, desregulam­entado, vai resolver os seus problemas, merece ganhar o prêmio Houdini de mágica discursiva.

No conjunto, é a montagem institucio­nal que vicejou sob a Carta de 1988 que se despedaça. Será difícil remontá-la.

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