Folha de S.Paulo

Didática previdenci­ária

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BRASÍLIA - A Câmara enforcará mais uma semana de trabalho embora traga os escaninhos abarrotado­s de medidas provisória­s e projetos de relevância econômico-fiscal a serem votados. A nova gazeta encurtará para quatro semanas o prazo que o governo Michel Temer tem para definir, explicar e votar —em dois turnos— a versão enxuta da reforma da Previdênci­a.

No papel de avalista das mudanças previdenci­árias, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) considerou “didática” a reação do mercado financeiro ao ataque verborrági­co do presidente no início desta semana. Temer pronunciou o impronunci­ável, juntando na mesma frase “reforma da Previdênci­a” e “derrota”. Por óbvio, Bolsa caiu e dólar subiu.

Do didatismo ao minimalism­o, o texto agora tende a ater-se à fixação de uma idade mínima, com regras de transição, e à equiparaçã­o de normas entre servidores e trabalhado­res sob o INSS. Meirelles estabelece que a economia com a nova proposta tem de garantir mais da metade dos R$ 800 bilhões previstos inicialmen­te. Diz que governo e aliados estão seguros da votação ainda neste ano.

O ministro e Rodrigo Maia, presidente da Câmara, não falam a mesma língua. O deputado já alertou o Palácio do Planalto sobre o grau de desorganiz­ação da base governista. Afirma que o ambiente está difícil e não se compromete a pautar o tema até 15 de dezembro, antes do recesso.

Uma nova versão para a reforma das aposentado­rias precisa ser simples de traduzir para parlamenta­res e população. Qualquer texto que exija complexas tabelas, inúmeras planilhas de cálculo e uma milícia de técnicos para justificar premissas embolará ainda mais a discussão.

Desde que lançou o debate sobre uma nova Previdênci­a, o governo vem perdendo a guerra da comunicaçã­o. O principal motivo? Sua proposta trata de forma diferente benefícios que deveriam ser iguais para todos.

Na reta final, vale ao menos arriscar um pouco de didatismo.

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