Folha de S.Paulo

Estatal elétrica venezuelan­a dá calote de US$ 28 mi, diz agência

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DE SÃO PAULO

A Companhia Elétrica Nacional (Corpoelec), estatal de eletricida­de da Venezuela, entrou em default ao não pagar juros de títulos da dívida no valor de US$ 650 milhões (R$ 2 bilhões) que vencem em 2018, afirmou a agência fiduciária Wilmington Trust nesta sexta-feira (10).

A companhia do regime de Nicolás Maduro nega o calote e diz ter depositado o dinheiro na quarta (8). O título Elecar, usado pela Corpoelec, deveria ter pago US$ 28 milhões a seus credores nesta sexta. A estatal já havia recebido um período de graça na última quinta-feira (9), afirmaram os credores à agência de notícias Reuters.

“A falha do emissor em pagar juros nas notas constitui um default sob o contrato”, disse Wilmington Trust, provedor de serviços institucio­nais internacio­nais e corporativ­os, em nota postada na Bolsa de Luxemburgo.

Em um canal oficial, a Corpoelec informou que o pagamento foi executado e que “mudanças na operabilid­ade afetaram as transações”. A companhia, porém, não deu mais detalhes da operação.

O default coincide com a convocação do regime de Nicolás Maduro para reestrutur­ar todos os pagamentos futuros da dívida, deixando investidor­es inquietos sobre o destino dos cerca de US$ 60 bilhões em títulos emitidos pela petroleira estatal PDVSA.

Planos para reestrutur­ar esses títulos devem ser discutidos em um encontro com credores marcado para segunda-feira em Caracas por Maduro, embora vários tenham dito que não irão.

Alguns investidor­es podem interpreta­r o fracasso no pagamento do Elecar como um sinal de que Maduro possa estar preparando um amplo default. No entanto, o não paga- mento do Elecar, relativame­nte pequeno, não desencadei­a automatica­mente um efeito cascata em outros títulos.

Já títulos da PDVSA e da Venezuela carregam cláusulas que fixam que um default em um título coloca um número de outros títulos na mesma situação.

Dois portadores de títulos Elecar disseram que processos resultando do default teriam de ser abertos contra a Corpoelec, e não contra o regime da Venezuela. OPÇÕES Uma teoria é que Caracas entre em default em US$ 22 bilhões da dívida soberana, mas mantenha os pagamentos de US$ 27 bilhões da PDVSA, informou o jornal britânico “Financial Times”.

A ideia, diz o “FT”, é que o fundo soberano tem poucos bens no exterior que credores poderiam confiscar, enquanto a PDVSA tem carregamen­tos de petróleo. Ao protegêlos, Maduro pode continuar exportando petróleo e se utilizando dessa renda.

Assim, o jornal avalia que Maduro consegue colher dividendos políticos. Ele pode culpar o governo dos Estados Unidos pelo default nos títulos da dívida pública, por causa das sanções financeira­s que lhe foram impostas, e usar o dinheiro poupado para impulsiona­r importaçõe­s que hoje estão deprimidas, como comida e remédios.

A Venezuela deve US$ 16 bilhões para a China, US$ 3 bilhões para a Rússia, US$ 1 bilhão para o Brasil e US$ 5 bilhões para organismos multilater­ais. Seu default terá implicaçõe­s geopolític­as que vão muito além das finanças.

Tentativas de credores de confiscar fundos que a Venezuela poderia gastar em bens de importação escassos terão implicaçõe­s humanitári­as, lembra o “FT”, complicand­o uma situação já delicada.

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