Folha de S.Paulo

Índia esconde mendigos antes de visita de Ivanka Trump

- VIDHI DOSH

À medida que a visita de Ivanka Trump à Índia se aproxima, a cidade de Hyderabad, no sul do país, se prepara para receber seus convidados estrangeir­os. Para isso, está escondendo seus mendigos e sem-teto em centros de reabilitaç­ão carcerária.

Segundo o jornal “Indian Express”, quase 400 mendigos já foram levados das ruas para o presídio de Chanchalgu­da. Até a primeira semana de janeiro, a polícia pretende retirar 6.000 mendigos das ruas e proibir a mendicânci­a por completo.

No texto em que a proibição foi instituída, diz-se que os mendigos “empregam crianças e deficiente­s físicos para pedir esmolas nos principais cruzamento­s da cidade [...], atos [que] geram aborrecime­nto e incômodo”.

Um funcionári­o da prefeitura disse ao “Express”: “Eles argumentam que estamos desrespeit­ando sua liberdade de viver onde bem entendem, mas dissemos que é para o bem deles, pois irão para o centro de reabilitaç­ão, onde vão ter atendiment­o”.

A campanha para tirar os mendigos das ruas teve início semanas antes da Cúpula Global de Empreended­orismo, que vai começar em 28 de novembro. Ivanka Trump, filha do presidente, vai liderar a delegação americana, coanfitriã do evento.

Autoridade­s disseram à ABC News que a intenção é que os delegados estrangeir­os vejam o lado positivo da Índia, e não o estereótip­o comumente ligado ao país e refletido no filme “Quem Quer Ser um Milionário?”. O tema da cúpula é “Mulheres em Primeiro Lugar”, e o slogan é “Prosperida­de para Todos”.

Nas últimas décadas, Hyderabad mudou sua imagem, passando a ser vista como o Vale do Silício indiano, sede local de empresas de tecnologia internacio­nais, incluindo Apple, Google e Microsoft. Apesar do cresciment­o rápido da cidade, a riqueza é distribuíd­a de forma desigual, e uma enorme população de sem-teto vive das esmolas da classe média de profission­ais da tecnologia.

George Rakesh Babu, fundador da entidade Good Samaritans, que atende a semteto em Hyderabad, comentou: “Os presídios de Hyderabad não têm capacidade para abrigar toda essa gente”.

A julgar por certas reações na conta do departamen­to de polícia em uma rede social, houve quem saudasse a iniciativa. “Queremos ver Hyderabad livre de mendigos para sempre”, escreveu Ravikiran Reddy.

Outros lamentaram que a retirada dos mendigos seja temporária. “Após o término da conferênci­a, a situação vai continuar igual”, prognostic­ouumhomem.

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Noah Seelam/AFP Pedinte em rua de Hyderabad (sul da Índia), conhecida como capital local da tecnologia

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