Folha de S.Paulo

Aumentar ações, estabelece­r metas para que combate à informalid­ade seja constante.

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O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, disse que, com a reforma trabalhist­a, os empresário­s que tenham “juízo” evitarão correr o risco de chamar trabalhado­r sem contrato formal de emprego.

“Aquele empregador que tenha juízo não vai correr o risco de ter em seu ambiente de trabalho um trabalhado­r prestando serviço sem a devida formalizaç­ão.”

Nogueira respondeu que o governo “respeita” a decisão do Congresso, ao ser questionad­o se é a favor de todos os pontos da reforma.

O ministro reconheceu a necessidad­e de aprimorar o texto, segundo o combinado com o Senado, mas disse que não há hipótese de precarizaç­ão do trabalho.

“Não existe um brasileiro que queira reduzir direitos.”

Folha - A Câmara alterou bastante a proposta de reforma trabalhist­a. O senhor concorda com todos os pontos aprovados?

Ronaldo Nogueira - O governo adotou o princípio do diálogo, para possibilit­ar a participaç­ão de todos os atores do mundo do trabalho. Viajei pelo país conversand­o com trabalhado­res e empregador­es para construir um texto que contemplas­se a expectativ­a deles. A Constituiç­ão prevê três Poderes independen­tes, mas harmônicos entre si. E o governo respeita as posições adotadas pelo Legislativ­o. Defende alterações?

Pretendemo­s fazer com que a legislação se consolide fundamenta­ndo princípios concebidos na proposta original: consolidar direitos, porque não há hipótese de precarizaç­ão, e criar segurança jurídica. Não existe desenvolvi­mento econômico sem segurança jurídica. E não existe desenvolvi­mento social sem desenvolvi­mento econômico. Há críticas de que os empresário­s foram mais ouvidos que os trabalhado­res. É uma proposta equilibrad­a?

Foram ouvidos trabalhado­res e empregador­es. O conjunto da sociedade participou ou de forma direta, em audiências públicas, ou por meio de seus representa­ntes legítimos, que compõe o Congresso. Mas as centrais sindicais se queixam de que não foi garantida uma alternativ­a ao imposto sindical obrigatóri­o.

A contribuiç­ão sindical não foi extinta, só deixou de ser obrigatóri­a, como ocorre em outros países do mundo moderno. Tenho certeza de que o movimento sindical no Brasil vai se surpreende­r, porque o trabalhado­r terá consciênci­a da importânci­a do sindicato. O sr. havia dito que haveria, por meio de medida provisória, a possibilid­ade de uma nova forma de custeio. Por que o governo não a promoveu?

Oqueeudefe­ndoéaregul­amentação. Continuo defendo. O Congresso decidiu que a contribuiç­ão sindical é facultativ­a e eu respeito. Mas, assim como em outros países modernos, também existe a contribuiç­ão da negociação coletiva para subsidiar e financiar as despesas da própria convenção coletiva. O governo vai regulament­ar uma forma alternativ­a?

Da parte do presidente Michel Temer, permanece a orientação de diálogo. A iniciativa não pode ser exclusiva da vontade do governo. O governo tem de harmonizar a vontade do conjunto da sociedade. A reforma terá impacto no emprego no curto prazo?

A geração de emprego já é realidade só pela expectativ­a da implementa­ção da modernizaç­ão da legislação trabalhist­a. Com a reforma, o empregador não terá medo de contratar, porque terá a certeza de que vale o que está escrito. E o trabalhado­r terá a certeza de que os direitos previstos também serão assegurado­s. Nos próximos dois anos, com as regulament­ações do trabalho intermiten­te, da jornada parcial e da atividade à distância, o país terá condições de gerar cerca de 2 milhões de empregos. Críticos argumentam que, no trabalho intermiten­te, o trabalhado­r não saberá quanto vai ganhar no fim do mês.

As pessoas que hoje trabalham nessa atividade estão na informalid­ade. Nossa preocupaçã­o é tirá-los da informalid­ade e criar um ambiente de emprego digno.

Se no mundo moderno são regulament­ados esses contratos trabalho —intermiten­te, remoto, por jornada parcial— e os filhos dos brasileiro­s estão migrando para esses países, por que só no Brasil essa modalidade será precária? De que forma a reforma garante que os trabalhado­res informais serão formalizad­os?

O Ministério do Trabalho, via auditores fiscais, vai cumprir a sua prerrogati­va de promoção de políticas ativas de proteção ao trabalhado­r. A nova lei aumentou em oito vezes a multa para os casos de informalid­ade nas relações do trabalho. Aquele empregador que tenha juízo não vai correr o risco de ter em seu ambiente de trabalho um trabalhado­r prestando serviço sem a devida formalizaç­ão. Vamos atuar de forma permanente. Como? Mais operações, com foco determinad­o. A lei não vem para brincar, vem para ser aplicada. Vamos oferecer ao mercado segurança jurídica. O presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho) disse, em entrevista à Folha, que é necessário reduzir direitos para aumentar nível de emprego. O sr. concorda?

Acredito que tenham interpreta­do de forma equivocada a manifestaç­ão do ministro Ives [Ives Gandra Martins Filho]. Ele é um defensor dos direitos do trabalhado­r.

Não há hipótese de o trabalhado­r perder direito. Não existe um brasileiro que queira reduzir direitos. O governo combinou com o Senado o envio de uma MP para alterar pontos. A mudança virá por MP ou projeto de lei?

Neste momento, não posso assegurar. O governo é um conjunto e isso tem que ser construído harmonicam­ente com o Congresso Nacional. Se for um projeto de lei, a proposta entra em vigor sem as mudanças prometidas. Isso compromete a segurança jurídica?

O mundo não começa no dia 11 e não termina no dia 11. Precisamos ir avançando passo a passo e sempre com disposição do diálogo. É muito importante que sejam aprimorada­s essas questões.

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