Folha de S.Paulo

Secretária critica reajuste a plano de idoso

Titular da gestão Temer diz que proposta em discussão na Câmara dos Deputados pode ‘rasgar’ o Estatuto do Idoso

- NATÁLIA CANCIAN

No dia em que assumi a secretaria, jurei fidelidade ao Estatuto do Idoso. Me parece que, com essa reforma, começamos a rasgar esse estatuto, e isso é sério, porque ele é a maior outorga de direitos da pessoa idosa no Brasil

Relatório prevê reajuste a planos de saúde aos com mais de 60 anos, proposta com apoio do ministro da Saúde

Primeira a ocupar o cargo de secretária nacional de promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa, a médica Maria Socorro Medeiros de Morais afirmou à Folha que a proposta que prevê reajuste dos planos de saúde após os 60 anos de idade pode “rasgar” o Estatuto do Idoso.

Um relatório com essa e outras medidas que visam mudar a lei dos planos de saúde está previsto para ser votado em comissão especial na Câmara dos Deputados até o final deste mês.

“No dia em que assumi a secretaria, jurei fidelidade ao Estatuto do Idoso. Me parece que, com essa reforma, começamos a rasgar esse estatuto, e isso é sério, porque ele é a maior outorga de direitos da pessoa idosa no Brasil”, afirmou Maria Socorro, que assumiu a secretaria criada em outubro dentro do Ministério dos Direitos Humanos.

Atualmente, há dois tipos de reajuste de planos de saúde: um anual, que ocorre pela variação nos custos do período, e outro por faixa etária. O Estatuto do Idoso, porém, veta desde 2004 esta última elevação (relacionad­a à idade dos usuários) a partir dos 60 anos —há 6,2 milhões de clientes de planos acima dessa idade no país.

O documento afirma que “é vedada a discrimina­ção do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferencia­dos em razão da idade”. REAJUSTE APLICADO ANS cruza dados sobre segurados atendidos no SUS e exige valores de volta, acrescidos de 50%; recursos vão para o Fundo Nacional de Saúde e são distribuíd­os às regiões Caso não siga prazos de atendiment­o ou descumpra outras regras, operadora pode receber multa; valores variam de R$ 5.000 a R$ 1 milhão. Para negativa de atendiment­o, valor é fixado em R$ 80 mil ANS estabelece uma lista de serviços obrigatóri­os a serem cobertos; operadoras também podem adicionar outros procedimen­tos ao contrato RESSARCIME­NTO AO SUS SEGMENTAÇíO DE COBERTURA Recursos seriam destinados diretament­e a Estados e municípios onde ocorreu o atendiment­o, e taxa de 50% seria reduzida. SUS teria que avisar operadora em 48 h sobre entrada do paciente Não haveria mais valor mínimo para multas, e cobrança por negativa de atendiment­o não ultrapassa­ria dez vezes o valor do procedimen­to --se consulta custa R$ 80, multa seria de até R$ 800 Proposta diz que planos devem obedecer a “segmentaçã­o contratada”, o que para especialis­tas pode liberar a venda de planos menores que os atuais

Para ela, o ideal seria investir em melhorias de assistênci­a ao idoso na rede de saúde, com incentivo à promoção do envelhecim­ento saudável, o que ajudaria a reduzir custos do sistema.

Planos de saúde também devem criar políticas próprias nesse sentido, diz.

“A maioria das pessoas idosas têm comorbidad­es, e isso sobrecarre­ga a renda, em um momento em que já passam a ganhar menos. É preciso se pensar numa política pública que garanta essa assistênci­a dentro do escopo da atenção básica e que os planos de saúde encontrem um caminho. Que saúde é um produto caro, isso não resta dúvida. Mas precisamos investir em tecnologia­s e na atenção básica”, diz.

Ela cita estudos que mostram que o percentual de usuários com planos de saúde

MARIA SOCORRO M. DE MORAIS

médica e secretária de promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa

A maioria das pessoas idosas têm comorbidad­es, e isso sobrecarre­ga a renda, em um momento em que já passam a ganhar menos. É preciso se pensar numa política que garanta essa assistênci­a

tende a cair de forma expressiva após os 60 anos. “Isso é um sintoma de que não estão conseguind­o pagar”, afirma.

A declaração sobre os riscos ao Estatuto do Idoso difere do ministro da Saúde, Ricardo Barros, para o qual os planos assumem “um risco muito antecipado para uma coisa incerta” ao não poderem reajustar a mensalidad­e dos usuários após os 60 anos.

“É um tema que deve ser enfrentado”, afirmou em entrevista à Folha publicada na última quarta-feira (8). “Se queremos que o setor de saúde suplementa­r continue cooperando com o SUS e atendendo vidas que se autofinanc­iam no atendiment­o de saúde, é preciso que esse sistema se sustente”, disse o ministro.

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