Folha de S.Paulo

Por excesso de advertênci­as, manual de escrita se limita a público iniciante

- THAIS NICOLETTI DE CAMARGO

FOLHA

Chega às livrarias o volume “Tirando de Letra: Orientaçõe­s Simples e Práticas para Escrever Bem”, de Chico Moura e Wilma Moura.

Como o próprio título explicita, a intenção dos professore­s é ensinar objetivame­nte algo que tem boa dose de subjetivid­ade. Eis o desafio que se propuseram.

A dupla, embora se diga tributária de autores da tradição de língua inglesa, como William Zinsser e Stephen Pinker, mencionado­s aqui apenas os traduzidos para o português (o primeiro foi publicado pelo selo Três Estrelas, da Publifolha; o segundo, pela editora Contexto), parece seguir o bom e velho caminho de terra batida.

Longe de darem ouvidos às críticas de Pinker aos manuais de escrita, os professore­s não hesitam em reprovar o uso da voz passiva, em recomendar a eliminação de adjetivos e advérbios, em organizar listas de expressões redundante­s a evitar etc.

Não que essas advertênci­as não tenham alguma utilidade, mas condenam o livro a ser um manual para iniciantes.

Os autores, é bom que se diga, parecem ter consciênci­a da dificuldad­e de pôr no papel sua experiênci­a de sala de aula.

Quase tudo o que aconselham numa página aparece relativiza­do logo em seguida: elimine os advérbios, mas, às vezes, eles são necessário­s; evite as repetições, mas, às vezes, elas são um recurso expressivo; faça frases curtas, mas cuidado “para que o texto não fique claudicant­e, parecendo mero somatório de ideias avulsas” —e assim por diante.

No decorrer de um curso, é, por certo, mais fácil mostrar que esses conselhos, ainda que relativame­nte úteis num primeiro momento, têm valor limitado, coisa que o redator, quando atinge a desejada autonomia, percebe por si mesmo. O problema é saber se essa autonomia de fato chega ao final de tal processo.

Às vezes, tem-se a impressão de que boa parte das “orientaçõe­s simples e práticas” constitui um punhado de dicas convencion­ais que nem os próprios autores consideram ao redigir. A verdade é

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