Por excesso de advertências, manual de escrita se limita a público iniciante
FOLHA
Chega às livrarias o volume “Tirando de Letra: Orientações Simples e Práticas para Escrever Bem”, de Chico Moura e Wilma Moura.
Como o próprio título explicita, a intenção dos professores é ensinar objetivamente algo que tem boa dose de subjetividade. Eis o desafio que se propuseram.
A dupla, embora se diga tributária de autores da tradição de língua inglesa, como William Zinsser e Stephen Pinker, mencionados aqui apenas os traduzidos para o português (o primeiro foi publicado pelo selo Três Estrelas, da Publifolha; o segundo, pela editora Contexto), parece seguir o bom e velho caminho de terra batida.
Longe de darem ouvidos às críticas de Pinker aos manuais de escrita, os professores não hesitam em reprovar o uso da voz passiva, em recomendar a eliminação de adjetivos e advérbios, em organizar listas de expressões redundantes a evitar etc.
Não que essas advertências não tenham alguma utilidade, mas condenam o livro a ser um manual para iniciantes.
Os autores, é bom que se diga, parecem ter consciência da dificuldade de pôr no papel sua experiência de sala de aula.
Quase tudo o que aconselham numa página aparece relativizado logo em seguida: elimine os advérbios, mas, às vezes, eles são necessários; evite as repetições, mas, às vezes, elas são um recurso expressivo; faça frases curtas, mas cuidado “para que o texto não fique claudicante, parecendo mero somatório de ideias avulsas” —e assim por diante.
No decorrer de um curso, é, por certo, mais fácil mostrar que esses conselhos, ainda que relativamente úteis num primeiro momento, têm valor limitado, coisa que o redator, quando atinge a desejada autonomia, percebe por si mesmo. O problema é saber se essa autonomia de fato chega ao final de tal processo.
Às vezes, tem-se a impressão de que boa parte das “orientações simples e práticas” constitui um punhado de dicas convencionais que nem os próprios autores consideram ao redigir. A verdade é