Apelo à Apple
Há uma semana, em Nova York, a Apple lançou o seu mais novo, mais potente e mais século-21 modelo de celular, o iPhone X. Ansiando pela geringonça, milhares de pessoas formaram filas nas calçadas, com lugares numerados, muitas delas tendo chegado 24 horas antes da abertura das lojas. Algumas levavam banquinhos; outras, cadeiras; e ainda outras, barracas —segundo alguém, parecia, à distância, um campo de refugiados.
Não entendo essa urgência. Se a Apple espera vender 30 milhões de aparelhos em três meses, não será um objeto de tiragem limitada. E, se se esgotar, não haverá novas tiragens? O curioso é que o Brasil, tão novo-rico para aderir a novidades, não está entre os 55 países em que o iX —posso chamá-lo assim?— foi lançado ao mesmo tempo. Ou estamos sem crédito ou a Apple quer nos empurrar o encalhe de seus modelos anteriores.
Ao mesmo tempo, já prevendo o dia em que as pessoas cairão em si e se revoltarão contra a ditadura do smartphone —segundo pesquisas, um usuário normal checa o celular 80 vezes por dia!—, a Apple já está trabalhando para que outros veículos ditos “inteligentes” comportem as funções do aparelho. Os primeiros candidatos são os óculos e relógios, mas preveem-se roupas em que, com um toque no punho, você estará conectado. É o que eles chamam de “wearables”, ou tecnologia vestível.
Enquanto isso, no Brasil, para desespero dos nossos delatores condenados à prisão domiciliar, não temos nem tornozeleiras eletrônicas decentes. Elas não ficam bem com bermudas, impedem que o sujeito use botas e o obrigam a passar duas horas perto de uma tomada para recarregar. Mas o pior é que o treco não pega em certos lugares da casa, levando a polícia a pensar que o camarada fugiu.
Apple, compadeça-se dos nossos corruptos e lance a iTornozeleira X. MARCUS ANDRÉ MELO