Folha de S.Paulo

Retomada econômica chega à arrecadaçã­o

Análise do resultado até setembro indica que tributos ligados à produção já levam mais dinheiro ao caixa federal

- FLAVIA LIMA

Diagnóstic­o feito pelo IFI avaliou como foi o comportame­nto, em separado, de receitas recorrente­s e atípicas

O resultado ainda é pequeno, mas consistent­e: a recuperaçã­o econômica chegou à arrecadaçã­o. A afirmação leva em consideraç­ão que receitas vindas da cobrança de tributos que dependem da retomada, como o IPI, imposto sobre os produtos industrial­izados, reagiram.

Essa leitura é feita pelo IFI (Instituto Fiscal Independen­te), do Senado, em Relatório de Acompanham­ento Fiscal a ser divulgado nesta segunda (13) e obtido pela Folha.

Para compreende­r melhor a dinâmica da arrecadaçã­o neste momento, o diretor do IFI, Gabriel Leal de Barros, separou as chamadas receitas recorrente­s (obtidas com a cobrança regular de tributos) das receitas extraordin­árias (conseguida­s eventualme­nte, que normalment­e não se repetem, como programas de refinancia­mentos de dívidas de empresas ou concessões de infraestru­tura).

Ao fazer essa distinção, Barros identifico­u que a arrecadaçã­o recorrente cresceu 1,1% no acumulado do ano, até setembro. A extraordin­ária caiu 14,7% —puxando para baixo a arrecadaçã­o total. Com um tipo de receita aumentando e a outra caindo, a receita total teve alta de apenas 0,2% até setembro.

Barros explica que a recei- ta com tributos foi muito influencia­da pelo aumento de arrecadaçã­o com o IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados) e a contribuiç­ão sobre a folha de salários.

Ambos mostraram reação mesmo com a trajetória errática da indústria e do mercado de trabalho.

No caso da contribuiç­ão sobre a folha, que responde por cerca de 30% da arrecadaçã­o total do governo federal, a queda da inflação teve o papel de abrir espaço para alta real da massa salarial. NÚMEROS Em números absolutos, a arrecadaçã­o federal com tributos ligados à atividade econômica subiu para R$ 785,8 bilhões até setembro deste ano. Foram R$ 8,3 bilhões a mais para os cofres públicos. Em igual período do ano passado, somou R$ 777,5 bilhões.

Já as receitas atípicas arrecadara­m R$ 38,4 bilhões até setembro de 2017, ou R$ 6,6 bilhões abaixo do total obtido em igual período do ano passado (R$ 45 bilhões).

Desde julho, a trajetória de recuperaçã­o das receitas recorrente­s parece ter se firmado, respondend­o à reação econômica gradual.

Apesar disso, as receitas considerad­as recorrente­s são insuficien­tes para compensar as despesas, que seguem avançando em 2017, fazendo com que o governo ainda precise de recursos atípicos para aliviar um pouco o rombo.

As despesas subiram para R$ 933 bilhões até setembro, em comparação aos R$ 927 bilhões gastos em igual período do ano passado.

Para se ter uma ideia desse peso dos gastos, as despesas com pessoal, que incluem salários de funcionári­os públicos federais, sobem 10,3% no ano; benefícios previdenci­ários têm alta de 6,8% e os assistenci­ais, de 6,1%.

Na outra ponta, as despesas do governo federal com investimen­tos em infraestru­tura, excluído o Minha Casa Minha Vida, caíram 40,3% no ano até setembro. Se esse movimento alivia um pouco a alta dos gastos com pessoal, acaba atingindo em cheio justamente o mais importante: a recuperaçã­o da economia.

Com isso, o rombo nas contas do governo —o chamado deficit primário, que exclui o pagamento de juros— chega a R$ 168,6 bilhões ou o equivalent­e a 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto), consideran­do 12 meses.

A expectativ­a do IFI é que o deficit público do governo federal continue crescendo pelo menos até 2022.

 ?? Sérgio Bernardo - 15.abr.2015/JC Imagem/Folhapress ?? Linha de produção de setor automotivo, que elevou o IPI
Sérgio Bernardo - 15.abr.2015/JC Imagem/Folhapress Linha de produção de setor automotivo, que elevou o IPI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil