Folha de S.Paulo

‘Rei dos dividendos’ aconselha que o investidor mire no longo prazo

Orientação é conhecer a empresa, analisar os balanços e estudar as perspectiv­as de cada setor

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Se o acionista não tiver tempo, pode terceiriza­r esse trabalho para um gestor de fundos, afirma especialis­ta

Um dos maiores investidor­es individuai­s da Bolsa brasileira, o economista Luiz Barsi Filho, ficou conhecido no mercado por ser o “rei dos dividendos”. Para ele, o investidor que quer montar uma carteira pautada em empresas que distribuem parte de seu lucro a acionistas precisa escolher o que chama de “dividendos inteligent­es”.

“Isso significa que o investidor tem que direcionar os recursos para aquela empresa que está pagando um dividendo maior. E comprar uma grande quantidade de ações, para maximizar o dinheiro recebido [o dividendo é pago por papel]”, diz.

Antes de comprar um papel, Barsi analisa o setor, o desempenho da empresa e a perspectiv­a para o segmento. “Eu não estudo uma empresa que hoje está pagando dividendos. Eu estudo uma empresa que possa vir a dar dividendos bons”, diz.

Isso passa, segundo ele, pela necessidad­e de entender que, em alguns anos, a companhia pode reduzir ou mesmo interrompe­r a distribuiç­ão do lucro.

“O importante é comprar ações que pagam dividendos Santander Brasil (financeiro) Copel (energia) e o investidor entender que, se a empresa estiver passando por uma fase de reequilíbr­io financeiro, não deve sair vendendo o papel. Tem que esperar. Mostra a condição de parceiro da empresa”, diz.

“Quem olha para índice da Bolsa, se sobe ou cai, está especuland­o. Quem olha para a empresa como um patrimônio se torna um parceiro para a vida. As empresas precisam de parceiros”, completa. TRABALHOSA Se no passado era mais fácil identifica­r setores com empresas que mais distribuem lucro aos acionistas, hoje a tarefa está mais trabalhosa.

Até 2012, por exemplo, as empresas de energia eram considerad­as boas pagadoras de dividendos. A fama acabou com a medida provisória 579, que mudou as regras para a renovação das concessões do setor e fez com que a distribuiç­ão de lucros por parte das elétricas despencass­e.

Por outro lado, é possível montar uma carteira olhando para o setor da atividade e, depois, para a perspectiv­a de sustentabi­lidade desse segmento. ”Existem setores perenes, como aviação, mas que tem histórico ruim para as empresas que atuam nele”, diz Barsi.

A nova realidade exige que o investidor analise caso a caso na hora de montar uma carteira de boas pagadoras de dividendos. Se fizer boas escolhas, o dinheiro distribuíd­o pode servir até como renda extra na aposentado­ria.

Antes de sair comprando ações, porém, o investidor precisa ter sangue frio para suportar as turbulênci­as da Bolsa. “Quem investe pensando em dividendos precisa conhecer bem o mercado de ações, principalm­ente para não se assustar com a sua volatilida­de”, afirma Alexandre Amorim, da associação Planejar.

A seguir, a orientação é analisar os balanços e focar no longo prazo, de forma que eventuais prejuízos ou mudanças na política de dividendos não afetem a estratégia.

Por outro lado, se não houver tempo para se dedicar ao assunto, pode ser interessan­te terceiriza­r esse trabalho para um especialis­ta. “Se a pessoa não tem esse conhecimen­to, é melhor optar por um fundo de investimen­to que tenha na carteira ações que pagam dividendos. Aí a escolha dos papéis é delegada a um gestor.” (DANIELLE BRANT) Como é pago? Por ação detida pelo acionista. O crédito é feito em conta-corrente. O pagamento, em geral, é feito anualmente, após assembleia geral ordinária para aprovar os resultados do ano anterior. Algumas companhias pagam dividendos intermediá­rios, que podem ser mensais, trimestrai­s ou semestrais O que são juros sobre o capital próprio? Outra forma de distribuir o lucro aos acionistas. A diferença é a tributação: há Imposto de Renda na fonte, com alíquota de 15% Qual a diferença? > Cada empresa define como o lucro será distribuíd­o. No caso dos juros sobre o capital próprio, a companhia tem ganho tributário. O registro contábil é feito antes do LAIR (Lucro antes do Imposto de Renda) > Dessa forma, os juros sobre o capital próprio entram como despesa na declaração de IR, e o acionista paga o imposto na fonte ao receber o provento. No caso do dividendo, o registro é feito após a apuração do lucro, com o imposto já recolhido

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