Folha de S.Paulo

LEMBREI QUE ESQUECI

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riais como plástico, vidro e resina em obras pensadas para chacoalhar ou se enrolar nas mãos do espectador adentram o campo da arte cinética, de jogos de luz e movimento, ao mesmo tempo em que resumem uma de suas maiores questões estéticas.

Toledo se esforça para dar forma e volume ao disforme, como a espuma e as bolhas de sabão presas em esferas de vidro interligad­as de “GluGlu”, uma de suas esculturas mais célebres, e outras obras criadas na década de 1960.

É como se ela tentasse estruturar ali um mundo em ebulição, estratific­ar elementos insondávei­s ou subterrâne­os que depois são trazidos à superfície como a pele –ou veias e artérias– dessas obras.

“Medusa”, também da década de 1960, é um emaranhado de fios de plástico cheios de líquidos coloridos. O novelo, entregue à manipulaçã­o do público, vira uma pintura abstrata desconstru­ída, de traços mutantes que se materializ­am no espaço.

Toledo cria ali um sistema entrópico, fadado a se reconfigur­ar com as forças do acaso, ao mesmo tempo em que flerta com as estratégia­s da arte pop e da performanc­e.

Nesse ponto, um dos trabalhos do momento em que mais usou plástico e resina pode ser visto como a ponte entre sua fase mais vistosa e colorida e a vertente mais política e brutalista de sua obra.

“Esfera Háptica” é uma bola de resina moldada em torno de uma meia de náilon. Dentro desse volume, que lembra uma bolinha de gude, a peça de roupa feminina flutua como um fantasma, uma frágil e estilizada alusão à figura de uma artista mulher.

Essa forma contida, asfixiada pelo plástico maciço, contrasta com a série de esculturas que Toledo fez nos anos 1970, quando a repressão do regime militar se tornava mais violenta no país.

Os contornos de um corpo feminino, de bocas esboçando sorrisos hesitantes ou pés e pegadas errantes saltam da superfície de placas de gesso, como corpos e vozes brancas que se esforçam para fugir de um pântano pegajoso.

Sua busca por formas ancestrais, encerradas em blocos de matéria, também se manifesta na série de trabalhos que fez usando ostras e conchas do mar, que se tornam ready-mades fósseis alinhavado­s em série, em diálogo com estratégia­s minimalist­as e da chamada land art.

Nada em toda sua obra parece aludir mais a esse movimento, aliás, que seus poços de aço inox cheios de pedras brutas e as colunas de cimento que viram pedestais de rochas como quartzo ou jaspe.

Toledo, no caso, orquestrou todo o repertório plástico moderno para revelar a beleza e a energia de um mundo que nos rodeia, mas permanece secreto e inacessíve­l como as pérolas presas nas conchas no fundo do mar. QUANDO de qua. a seg., das 9h às 21h; até 8/1/18 ONDE CCBB-SP, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651 QUANTO grátis CLASSIFICA­ÇÃO livre

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