BANQUETAÇO
o que é “extrapola tudo o que podemos supor sobre alimentação”.
Ela se refere à farinata, o produto ultraprocessado que o prefeito João Doria (PSDB) incluiu em projeto de combate à fome na capital.
O raciocínio também se aplica ao soylent, um pó que reúne nutrientes fundamentais para a sobrevivência humana e que promete substituir as refeições.
Eesse tipo de produto fere brutalmente os 12 mandamentos da comida, conjunto de preceitos elencados pelo jornalista norte-americano Michael Pollan, rebelde da atual cultura gastronômica.
Ele sugere, por exemplo, que não se coma “nada que sua avó não reconhecesse como comida”.
Hoje, porém, com o desenvolvimento de um pensamento que abstrai as formas culturais de comer, o nutriente passa a substituir o alimento.
“Há uma confusão entre nutriente e alimento. As formas de alimentação nutricional tomam as pessoas do ponto de vista biológico, como animais. Alimentação é plantar, colher, preparar, compartilhar, conviver”, diz o sociólogo Carlos Alberto Dória, autor de “Formação da Culinária Brasileira”.
Para o antropólogo Ulisses Stelmastchuk, a comida é um elemento social total. “À mesa ocorrem todas as expressões da sociedade moderna”, diz o especialista em alimentação. “Comer é um ato natural que o homem foi cercando de simbolismos muito fortes.”
O filósofo francês Edgard Morin, diz Stelmastchuk, identifica esse passo como decisivo no processo de hominização. “E tudo isso diz respeito a uma questão antropológica muito básica: o desejo de fazer parte da coesão social de uma cultura.”
A comida, portanto, tem a capacidade de promover um ritual de adesão cultural e não está restrita à subsistência. Eis as palavras do dramaturgo francês Molière (16221673): “É preciso viver para comer, e não comer para viver”. QUANDO qui. (16), às 12h ONDE em frente ao Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n) QUANTO grátis (2.000 porções compostas de petiscos, prato principal e sobremesa)