Folha de S.Paulo

Tucano deixa Cidades e dá início à reforma ministeria­l

Bruno Araújo pediu demissão citando falta de apoio do PSDB, que vive racha

- BRUNO BOGHOSSIAN GUSTAVO URIBE MARINA DIAS

Partido tem mais três ministros; seus cargos devem ser repartidos entre demais legendas da base governista

O presidente Michel Temer começou a negociar com os partidos de sua base aliada a redistribu­ição de cargos de primeiro escalão na reforma ministeria­l que deve ser realizada nas próximas semanas.

Temer acelerou essas articulaçõ­es com o pedido de demissão do tucano Bruno Araújo do Ministério das Cidades, nesta segunda-feira (13), dando início ao desembarqu­e do PSDB do governo.

O peemedebis­ta se reuniu com o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), para discutir a ocupação dos principais cargos do governo. O partido quer comandar as Cidades. Estão cotados o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, e o líder do governo na Câ- mara, Aguinaldo Ribeiro (PB).

Temer vai convocar nos próximos dias os caciques dos demais partidos que dão sustentaçã­o a seu governo. Ele avisou a aliados do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) que vai chamá-lo.

Segundo auxiliares de Temer, todos os ministros que pretendem se candidatar nas eleições de 2018 devem deixar seus cargos nessa reforma. Ao estabelece­r esse critério, o presidente quer evitar uma nova mudança no ano que vem, reduzir resistênci­as dos atuais ocupantes e criar uma justificat­iva “honrosa” para a saída de auxiliares como Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo).

O Planalto pretende fechar o redesenho do governo até o fim da próxima semana e dar posse aos novos ministros até o dia 15 de dezembro.

Ao acelerar a redistribu­ição dos cargos aos partidos de sua coalizão, o presidente quer abrir caminho para tentar votar a reforma da Previdênci­a até o fim do ano, ao menos na Câmara. As siglas rejeitam discutir o assunto enquanto não forem contem- pladas com cargos.

Para solucionar essa equação, Temer precisará promover a troca de atuais feudos dos partidos de sua coalizão. Se receber as Cidades, o PP deverá abrir mão da Saúde — esses cargos comandam dois dos maiores orçamentos da Esplanada. A pasta poderia ser entregue ao PMDB. DESEMBARQU­E O Planalto havia decidido antecipar para este ano a reforma, antes prevista para abril. Temer já admitia a saída do PSDB, mas aguardava uma decisão do partido na convenção de 9 de dezembro.

Assessores presidenci­ais avaliam que a demissão de Araújo deixou os outros três ministros tucanos —Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Imbassahy em uma “situação complicada”, mas não acreditam que eles pedirão demissão.

O vácuo nas Cidades, entretanto, tornou inevitável a reorganiza­ção do governo.

Araújo entregou a Temer sua exoneração minutos antes de cerimônia. No gabinete presidenci­al, ele chorou e disse que tomara a decisão para não se tornar personagem de crises no PSDB.

No pedido de demissão, ele agradeceu a Temer pela confiança e disse que não tem mais apoio da sigla para seguir no cargo.

Araújo disse à Folha que tomou a decisão por entender que “faltou firmeza ao PSDB” para que ele continuass­e, e que sua participaç­ão no ministério dependia do respaldo da sigla.

O PSDB está rachado em uma ala que defende Temer, ligada ao presidente licenciado do partido, Aécio Neves, e outra que quer deixar o governo, que apoia o senador Tasso Jereissati (CE) para comandar a legenda.

Araújo é deputado federal por Pernambuco e estava no governo desde o início, em maio de 2016. No mês anterior, ele deu o voto decisivo pelo impeachmen­t de Dilma.

O tucano, porém, ameaçou deixar o governo quando a crise da delação da JBS atingiu Temer e o PSDB deu sinais de que romperia com o presidente.

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O presidente Michel Temer e o agora ex-ministro das Cidades Bruno Araújo durante cerimônia no Palácio do Planalto

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