Folha de S.Paulo

Diretor do Santander é denunciado dentro da Operação Zelotes

Ministério Público Federal acusa executivo do banco de contratar consultori­a de fachada para comprar sentença

- FÁBIO FABRINI

Instituiçã­o financeira nega acusações e disse que se pôs à disposição das autoridade­s tão logo soube da suspeita

O MPF (Ministério Público Federal) em Brasília denunciou nesta segunda (13) o diretor de Planejamen­to Tributário do Santander, Reginaldo Antônio Ribeiro, e mais três pessoas por envolvimen­to num suposto esquema de corrupção na Receita Federal que teria beneficiad­o o banco com R$ 83 milhões em créditos tributário­s.

O caso foi investigad­o na Operação Zelotes. Conforme a denúncia, obtida pela Folha, o banco simulou em 2013 contrato de consultori­a com um escritório, cujo propósito real seria o de comprar decisões a ele favoráveis na Delegacia Especial da Receita de Instituiçõ­es Financeira­s em São Paulo (Deinf-SP).

A Zelotes aponta que o auditor Eduardo Cerqueira Leite, lotado na unidade, recebeu propinas da empresa de consultori­a para dar ao Santander vitória em processos administra­tivos fiscais de seu interesse, que tratavam de restituiçõ­es ou compensaçõ­es tributária­s. O servidor é acusado de chefiar um núcleo criminoso voltado para beneficiar bancos.

A Procurador­ia da República no Distrito Federal sustenta que Cerqueira Leite procurava bancos para oferecer os seus “serviços” e preparava a estratégia e ser adotada pelas instituiçõ­es nos processos em que ele próprio, como auditor, despachava.

O MPF alega que o Santander contratou a Lupe Consultori­a e Assessoria, empresa sem tradição no mercado tributário e sem funcionári­os, para atuar na recuperaçã­o de créditos. Mesmo assim, os advogados do banco continuara­m atuando nos processos.

Após a contrataçã­o, três processos de interesse do banco tiveram decisões favoráveis de Cerqueira Leite, benefician­do o Santander em R$ 83 milhões. A Lupe, então, recebeu R$ 5 milhões como “taxa de sucesso”.

Ao diretor do Santander é atribuído o crime de corrupção ativa, além de lavagem e organizaçã­o criminosa. Ribeiro foi o responsáve­l pelas tratativas com a Lupe Consultori­a. Durante a investigaç­ão, ele justificou em depoimento­s que a contrataçã­o foi para serviços regulares. A Zelotes, no entanto, alega que o executivo “sabia que lidava com criminosos”.

O MPF pede que os envolvidos sejam condenados a ressarcir ao erário R$ 5 milhões, corrigidos, e a pagar outros R$ 8 milhões por danos morais coletivos. OUTRO LADO

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