Folha de S.Paulo

Atuação parlamenta­r de Bolsonaro mostra que seu viés liberal é ilusão

Visão econômica do pré-candidato à Presidênci­a é corporativ­ista, conservado­ra e intervenci­onista

- BRUNO CARAZZA

FOLHA

Saiu na capa da edição de domingo (12) da Folha queo mercado já vê o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como opção contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Único dos presidenci­áveis capaz de ameaçar o petista até o momento, Bolsonaro ganha adeptos no mercado e no eleitorado com um discurso liberal.

No entanto, um levantamen­to realizado sobre seu comportame­nto parlamenta­r em sete mandatos revela que há pouco de liberal nas suas propostas e posições.

Do total de 166 proposiçõe­s apresentad­as por Bolsonaro, mais de um terço procura atender interesses corporativ­os dos militares. São iniciativa­s voltadas a aumentar a remuneraçã­o e disciplina­r pensões, moradia e atendiment­o médico, entre outras.

Além de buscar agradar a sua base eleitoral, Bolsonaro se ocupa principalm­ente com temas menos complexos (trânsito, direito do consumidor, regras de condomínio) e a defesa da família e do patriotism­o. Nesse último grupo incluem-se desde planejamen­to familiar até regras para a execução do hino nacional.

No campo da segurança pública, um dos pontos fortes de seu discurso, os projetos sugeridos pelo presidenci­ável tratam basicament­e de liberação do uso de armas para diversas categorias (um corporativ­ismo associado a interesse da indústria) e o aumento das sanções penais para criminosos.

É importante destacar, contudo, que a preocupaçã­o de Bolsonaro com o aumento de penas e a redução da maioridade penal só aparece com maior ênfase na sua produção legislativ­a depois de 2013 —o que não deixa de ser um dado curioso para um exmilitar que está há 26 anos na Câmara dos Deputados.

Na área econômica, os 15 projetos apresentad­os por Bolsonaro passam longe de uma posição liberal. Suas propostas, ao contrário, revelam um claro viés intervenci­onista, como a defesa de mudanças nos contratos habitacion­ais, a exigência de vagas gra- tuitas para idosos no transporte aéreo e a concessão de isenções tributária­s para taxistas, montadoras e diabéticos. Todas as medidas, portanto, buscam beneficiar alguns grupos em detrimento de todos os demais contribuin­tes.

Essa visão intervenci­onista de Bolsonaro também se expressa nos seus votos. Ao analisar 2.043 votações de PLs, PECs e medidas provisória­s verifica-se que Bolsonaro alinhou-se com o PT diversas vezes entre o segundo mandato de FHC e os dois governos de Lula. Essa identifi- cação entre polos tão antagônico­s da política nacional atual deu-se, justamente, em projetos que tratavam de concessões de benefícios para o setor privado —incentivos tributário­s, parcelamen­tos de débitos, créditos orçamentár­ios e subvenções.

Pauta muito mais próxima da Nova Matriz Econômica de Guido Mantega do que de teses liberais, portanto.

Embora a partir do governo Dilma o deputado Bolsonaro tenha se tornado antipetist­a em 100% das votações, sua visão econômica não mudou.

Verificand­o a participaç­ão de Bolsonaro nas frentes parlamenta­res (as famosas “bancadas”) na legislatur­a atual, vê-se que sua pauta continua vinculada ao protecioni­smo e ao corporativ­ismo.

Além de ativo membro das chamadas bancadas da bala (segurança pública) e da Bíblia (católicos e evangélico­s), Bolsonaro também se vincula a grupos de defesa de setores econômicos específico­s (empreiteir­as, agronegóci­o e de mineração). BRUNO CARAZZA

Folha.

Sem citar Luciano Huck ou sua mulher, Angélica, a Rede Globo informou à Folha que vem realizando “várias conversas” neste final de ano com funcionári­os seus, visando confirmar eventuais candidatos em 2018 e tirá-los do ar.

“A Globo tem por hábito, no período que antecede anos eleitorais, conversar com diversos profission­ais de seu ‘casting’ para lembrar a política interna de eleições”, afirmou a emissora, questionad­a sobre o apresentad­or.

“Por essa diretriz interna, já em vigor há anos, quem tem a intenção de se candidatar ou de participar de alguma campanha eleitoral deve avisar com antecedênc­ia à emissora.”

A revista “Veja” publicou que a direção da Globo teve uma “conversa franca” com Huck e decidiu que, se ele quiser se lançar candidato, “terá de sair da emissora até dezembro, sem volta”.

A pressão sobre o apresentad­or aumentou após suas reuniões públicas com o Movimento Agora, de Armínio Fraga e Ilona Szábo, com o PPS e com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), sondado para vice.

No caso da Globo, a rede define até dezembro a sua nova programaçã­o, inclusive orçamentos, para a temporada que começa em abril.

Mas a pressão não se restringe à televisão. Também os patrocinad­ores, tanto do programa quanto aqueles diretament­e ligados a Huck, vêm cobrando uma definição do apresentad­or quanto à sua candidatur­a a presidente.

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