Folha de S.Paulo

Militares ameaçam líder do Zimbábue e ocupam capital

Grupo nega que queira derrubar Mugabe e diz atacar entorno do ditador; na segunda, general do Exército exigiu fim de expurgo

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Um grupo de militares ocuparam Harare, no Zimbábue, nesta quarta (15) após o comandante do Exército ameaçar intervir para acalmar a tensão em torno da sucessão do ditador Robert Mugabe, 93, há 37 anos no poder.

As movimentaç­ões nos quartéis começaram no final da noite. Comboios de veículos blindados começaram a se instalar nas entradas da cidade. Pelo menos três explosões ocorreram na cidade e tiros foram ouvidos próximo à residência do ditador.

Na sequência, ocuparam a sede da TV pública, usando seus estúdios para fazer um comunicado. Dois militares não identifica­dos afirmavam não se tratar de um golpe contra Mugabe, a quem chamaram de “Sua Excelência”, e disseram que a família do ditador “está sã e salva”.

“Nós só temos como alvo os criminosos de seu entorno que estão cometendo crimes que causam sofrimento social e econômico ao país para que se faça justiça. Assim que nós cumprirmos com nossa missão, a situação voltará ao normal.”, disse o porta-voz, sem dizer a quem se referia.

Esta é a primeira vez que há um conflito entre Robert Mugabe, um dos líderes mais velhos e longevos do mundo, e as Forças Armadas, seu pilar de sustentaçã­o.

Na semana passada, o ditador depôs seu vice, Emmerson Mnangagwa, 75, e o acusou de planejar sua derrubada, inclusive com bruxaria. O político, apoiado pelos militares e visto como um potencial mandatário, saiu do país e disse ter sido ameaçado.

Mais de cem funcionári­os de alto escalão acusados de dar apoio a Mnangagwa, 75, foram punidos pela ala do regime ligada à mulher de Mugabe, Grace, 52, a mais cotada para substituir o rival do ditador a partir de dezembro.

Na segunda, o comandante do Exército, Constantin­o Chiwenga, 61, disse que os expurgos deveriam parar imediatame­nte. “Nós devemos lembrar àqueles ligados aos atuais traidores que, quando tivermos que proteger nossa revolução, não vamos hesitar em intervir.”

O partido do regime disse que a nota foi “claramente calculada para prejudicar a paz nacional e incitar à insurreiçã­o”. A pressão social cresceu com a crise econômica. Em 2016, o Zimbábue passou pela maior onda de protestos contra Mugabe em dez anos.

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Philimon Bulawayo/Reuters Soldados ficam em posição de patrulha ao lado de blindado em Harare, no Zimbábue

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