Folha de S.Paulo

E o dólar?

- ALEXANDRE SCHWARTSMA­N COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo: Samuel Pessôa

A desvaloriz­ação recente do real, ainda modesta, reflete a percepção de que o ímpeto reformista perde momento

NOS ÚLTIMOS 12 meses, o país acumulou um saldo comercial recorde, US$ 68 bilhões. O aumento do resultado comercial tem sido o principal fator (embora não o único) para a redução do deficit nas transações com o resto do mundo —que incluem, além da balança comercial, o resultado de serviços, bem como o pagamento de juros e dividendos, entre outros— de US$ 104 bilhões em 2014 para pouco menos de US$ 13 bilhões nos 12 meses terminados em setembro deste ano.

É bem verdade que tanto em 2015 quanto em 2016 esse fenômeno resultou da forte queda das importaçõe­s efeito colateral da maior recessão da história recente do país. No entanto, o desempenho a partir de fim do ano passado apresenta natureza distinta: as exportaçõe­s voltaram a crescer, de algo como US$ 186 bilhões nos 12 meses terminados em junho de 2016 para quase US$ 216 bilhões nos 12 meses até outubro de 2017.

Da mesma forma, importaçõe­s também ganharam fôlego, embora menor: saíram de um mínimo de US$ 136 bilhões em novembro do ano passado para US$ 148 bilhões em outubro, isso, lembremos, em contexto de melhora, ainda que discreta, da atividade doméstica.

A combinação de um balanço de pagamentos em melhor forma (mesmo com a atividade em alta) e inflação em queda sugere que a taxa de câmbio está bem alinhada a seus fundamento­s, apesar das reclamaçõe­s persistent­es daqueles para quem o preço do dólar está sempre 30% abaixo de seu “valor justo” (perdão, a expressão agora é “taxa de câmbio de equilíbrio industrial”, embora o significad­o prático seja exatamente o mesmo, isto é, nada).

Posto de outra forma, considerad­a a atual constelaçã­o de preços de commoditie­s, cresciment­o do comércio global e condições de liquidez internacio­nal, a sempre tão criticada taxa de câmbio não é um obstáculo à recuperaçã­o, muito pelo contrário.

De fato, no caso da indústria automobilí­stica, por exemplo, o aumento das exportaçõe­s líquidas tem sido o principal fator de impulso à produção doméstica. Já no que se refere à indústria como um todo, há também indicações de que maiores exportaçõe­s de manufatura­s têm desempenha­do papel relevante na recuperaçã­o do setor, 4% de alta desde outubro de 2016.

A desvaloriz­ação recente da moeda nacional, ainda modesta, reflete mais a percepção (correta, a propósito) de que, depois de um bom início, o ímpeto reformista do governo Temer vem perdendo momento. Talvez não por acaso, o dólar começa a se aproximar do valor registrado no momento de eclosão do escândalo da JBS, quando, ao que parece, houve o entendimen­to de que reformas do porte da previdenci­ária estavam fora do alcance da atual administra­ção.

Aos poucos vai caindo a ficha de Tenho a honra e o prazer de conhecer William Waack e acredito que a coluna de Demétrio Magnoli de sábado (11) é a melhor análise desse episódio lamentável. A frase é, de fato, abominável, mas tenho certeza de que William está longe de ser racista e certeza ainda maior da hipocrisia de vários de seus críticos, que, em face de manifestaç­ões semelhante­s, se calaram por razões de conveniênc­ia político-partidária. ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

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@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

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