Folha de S.Paulo

Fofurices

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RIO DE JANEIRO - Em meio ao ódio, existe a hora da fofura. A mais recente envolve um vira-lata tão magro e faminto que acabou batizado de Kustelinha. Mas isso só depois de ter realizado sua grande façanha: furtar um livro. O instinto do animal parece ter saído da cabeça de um roteirista de Hollywood sem inspiração, pois a obra surrupiada intitula-se “Dias de Abandono”.

Luz, som, câmera, ação: Kustelinha, sorrateira­mente, entra na livraria Infinity, no campus da universida­de Feevale, em Novo Hamburgo (RS). Como se tivesse ensaiado as marcações de cena com o diretor, vai até uma prateleira, escolhe e abocanha o exemplar, sai da loja sem ser notado. As imagens foram divulgadas na internet e —como se diz mesmo?— tornaram-se virais.

Curtido, comentado e compartilh­ado milhares de vezes, o filme logo ganhou um título simpático: “O Cachorro que Roubava Livros”. A vida do ator canino deu um giro: pas- sou de vadio a celebridad­e. Perdeu as pulgas no banho, puseram-lhe uma gravata ridícula, tirou mil fotos, esteve no veterinári­o e, mais importante para ele, está sendo alimentado. Comer celulose, nunca mais! Atualmente vive num lar temporário e será levado para adoção.

Autora de “Dias de Abandono”, Elena Ferrante ganhou um impulso de leitura gratuito. Não que precise: a italiana é hoje, com justiça, uma das sensações do mercado editorial. Mas, como se esconde sob um pseudônimo, os leitores querem porque querem descobrir-lhe a identidade. Houve quem apostasse que ela mora em Novo Hamburgo.

Passada a breve mas também intensa euforia em torno do totó, a turma das redes sociais voltou ao seu esporte predileto: mentira e difamação. Ou, nas palavras já célebres do ministro Luís Roberto Barroso, proferidas no STF: “A vida, para vossa excelência, é ofender as pessoas”. Até aparecer uma nova fofice. ANDRÉ SINGER

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