Folha de S.Paulo

Martín Vizcarra é empossado na Presidênci­a do Peru

Vice sucede PPK, que renunciou com iminência de impeachmen­t por escândalo de propina da Odebrecht

- SYLVIA COLOMBO

Novo presidente pede celeridade com corrupção e que país se una; líderes de oposição prometem apoio

Martín Vizcarra, 55, assumiu a Presidênci­a do Peru nesta sexta (23) para completar o mandato de Pedro Pablo Kuczynski, cuja renúncia após 20 meses no cargo foi aceita horas antes pelo Congresso peruano por 105 votos, com 12 contra e 13 abstenções.

Vizcarra assume a três semanas de Lima sediar a Cúpula das Américas, com os líderes da região. Ele ordenou à Chancelari­a que mantenha o ritmo de preparação e afastou o risco de cancelamen­to.

Pouco antes das 13h (15h em Brasília), o até então vicepresid­ente Vizcarra entrou no Congresso sob aplausos de parlamenta­res e convidados, contrastan­do com a posse do antecessor, conhecido como PPK, na qual houve vaias. O mandato vai até 2021.

Após receber a faixa presidenci­al do líder do Congresso, o fujimorist­a Luis Galarreta, Vizcarra prestou juramento e fez um discurso de pouco menos de 20 minutos.

Nele, reforçou a necessidad­e de o Peru “virar a página”, e afirmou que sua gestão buscará um “pacto social” e o combate à “política de ódio e confrontaç­ão”, aludindo aos enfrentame­ntos da gestão anterior com o fujimorism­o.

O nome de PPK não foi mencionado, mas Vizcarra disse que “se esforçaria por um país com Justiça forte e independen­te” e que exigiria “celeridade e rigor” com relação a casos de corrupção.

PPK apresentou sua renúncia na quarta (21) após o Congresso marcar, pela segunda vez em três meses, uma votação para demovê-lo por incapacida­de moral devido às acusações de que teria recebido propina da empreiteir­a brasileira Odebrecht —é o primeiro presidente no cargo a cair no rastro da Lava Jato.

Ele nega as acusações, mas alega que elas tornaram sua gestão presidenci­al inviável.

Vizcarra afirmou que o gabinete será totalmente reformulad­o nos próximos dias e terminou com uma mensagem aos jovens, maioria nos protestos de rua contra a corrupção e os políticos que pediam “que saiam todos”.

“O Peru já passou por momentos mais difíceis do que este, peço que vocês não percam a esperança”, discursou.

O clima no Congresso era de entusiasmo. Em vários momentos Vizcarra foi interrompi­do por palmas. Mostrou-se mais informal que o antecessor, sorriu e acenou aos filhos e netos num balcão. Depois, cumpriment­ou um a um os líderes de partidos. TRAIDOR DA PÁTRIA Antes da posse, porém, o líder do Congresso, Galarreta, enfrentou uma pequena crise. Ao final da votação da carta de renúncia, o documento que formalizar­ia sua aceitação dizia que o suposto envolvimen­to de PPK com atividades ilícitas o tornava um “traidor à pátria”.

Quando soube disso, PPK lançou pelas redes sociais uma mensagem dizendo que aquilo era “inaceitáve­l” e que, se o documento final assim ficasse, ele iria “retirar a renúncia e submeter-se ao processo de vacância do cargo”. Os representa­ntes de seu partido interceder­am, e o termo foi retirado do texto.

O Parlamento optou então por uma solução mais ágil.

Se no primeiro dia os principais representa­ntes partidário­s haviam dito que não aceitariam a renúncia, depois, em conversas com Galarreta, criou-se consenso de que com ela a sucessão seria mais rápida —a votação de vacância, tendo o presidente renunciado, manteria o vácuo de poder por mais dias.

PPK perde o foro privilegia­do e fica impedido de sair do país, o que mostra a intenção do Ministério Público peruano de investigar a acusação de que suas empresas receberam favores e dinheiro da Odebrecht em troca de concessões de obras quando ele teve cargos na gestão Alejandro Toledo (2001-06).

Pesou para a transição tranquila a boa relação que Vizcarra com os líderes dos principais partidos. Uma das primeiras a cumpriment­á-lo foi Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) e líder do Força Popular, que tem a maior bancada —59 deputados.

“Este é um momento de estar unidos, desejamos êxito ao presidente nessa nova gestão que se inicia”, disse.

Os líderes dos esquerdist­as Nuevo Perú e Frente Amplio também ofereceram apoio.

A primeira-ministra Mercedes Araóz passa a ser a primeira vice-presidente, e seu sucessor deve ser indicado.

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