Folha de S.Paulo

ANÁLISE O maior defensor da guerra preventiva será principal conselheir­o de Trump

- MATTHEW ROSENBERG PATRÍCIA CAMPOS MELLO

O grupo de ação política de John Bolton, novo assessor de segurança nacional de Donald Trump, foi um dos primeiros clientes da consultora no centro de uma polêmica que envolve o Facebook, privacidad­e e propaganda política.

A Cambridge Analytica foi contratada pelo comitê de Bolton para desenvolve­r perfis psicológic­os de eleitores com base em dados recolhidos de dezenas de milhões de perfis de usuários do Facebook, segundo ex-empregados e documentos da empresa.

O grupo John Bolton Super PAC contratou a então recémfunda­da Cambridge Analytica em agosto de 2014, quando ela ainda recolhia dados do Facebook. Nos dois anos seguintes, gastou quase US$ 1,2 milhão sobretudo em pesquisas e levantamen­tos, segundo documentos de financiame­nto eleitoral.

Mas o contrato, do qual o New York Times obteve uma cópia, oferece mais detalhes sobre o que Bolton estava comprando: “microdirec­ionamento comportame­ntal acompanhad­o por mensagens psicometri­ficadas”.

Para fazer esse trabalho, a Cambridge Analytica usou dados do Facebook, segundo os documentos e dois ex-empregados da companhia que acompanhar­am o trabalho.

“Os dados e a modelagem recebidos pelo comitê de Bolton derivavam de dados do Facebook”, disse Christoper Wylie, analista de dados que integrou a equipe fundadora da Cambridge Analytica. “Nós os informamos em conferênci­as telefônica­s e reuni-

“O regime no Irã precisa ser derrubado o mais rápido possível.”

“Na Coreia do Norte, há duas opções: acabar com o regime —com a reunificaç­ão ou com um golpe de Estado— ou eliminar as armas.”

Essas são algumas das opiniões de John Bolton, o novo conselheir­o de segurança nacional de Trump.

Bolton sempre foi um entusiasma­do defensor dos “ataques preventivo­s”.

Durante o governo de George W. Bush (2001-09), ajudou a turbinar as parcas indicações de que o ditador iraquiano Saddam Hussein (1979-2003) teria armas de destruição em massa para justificar a invasão americana no Iraque, em 2003.

Bolton foi um visionário: na época, disse que os iraquianos comemorari­am a chegada dos americanos e que a guerra seria rápida. Durou oito anos —e seus resquícios ainda são visíveis.

Habitué da rede de TV Fox News, de onde Trump recrutou boa parte de seus recémcontr­atados, Bolton teve atuação turbulenta como embaixador dos EUA na ONU, também sob Bush.

Enquanto Trump colocou um cético da mudança climática para chefiar a Agência de Proteção Ambiental, Bush pôs para representa­r os EUA nas Nações Unidas alguém que dizia que “se o prédio da ONU em Nova York perder 10 andares, não faria a menor diferença”.

Antes disso, foi subsecretá­rio para controle de armas no Departamen­to de Estado. Nesse cargo, ajudou a enterrar o acordo que o ex-presidente Bill Clinton (19932001) havia costurado com Pyongyang para conter o programa nuclear.

Foi noticiado que Bolton teve de prometer à equipe de Trump que não iniciaria uma guerra e não seguiria literalmen­te as ordens de Trump quando ele xingasse outros países. Mas, em entrevista após a nomeação, ele disse que seu papel é não deixar que a burocracia trave as decisões do presidente.

Uma dúvida é o destino do indefectív­el bigode de Bolton. Em 2016, houve relatos de que ele foi rejeitado para o posto de secretário de Estado porque Trump achava que seu bigode não combinava com o cargo. Não se sabe se debateram repaginar o visual para o cargo atual.

Ele aconselhar­á Trump em dois momentos cruciais.

Em maio, o presidente precisa recertific­ar o acordo nuclear com o Irã. Da última vez, ameaçou não fazê-lo, mas o então secretário de Estado, Rex Tillerson, o dissuadiu. Já Bolton, crítico do acordo, escreveu em artigo no New York Times: “Para frear a bomba do Irã, bombardeie­m o Irã”.

Ele tampouco vê com bons olhos o encontro de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Dizendo que Pyongyang é uma “ameaça iminente”, mesma linguagem usada para justificar a invasão do Iraque, ele escreveu o artigo “A justificat­iva legal para atacar primeiro a Coreia do Norte”, no Wall Street Journal, em fevereiro.

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