Folha de S.Paulo

Apoio a controle de armas cresce às vésperas de protesto

Consulta da Associated Press com 1.122 pessoas mostra que 7 em 10 dez apoiam medidas restritiva­s, nível mais alto em 5 anos nos EUA

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Às vésperas do que promete ser uma histórica manifestaç­ão pelo controle de armas nos EUA —comparável às passeatas pelos direitos civis da década de 1960—, uma pesquisa mostrou que quase sete em cada dez americanos apoiam medidas mais restritiva­s às armas no país.

É o maior percentual nos últimos cinco anos, segundo um levantamen­to feito pela Associated Press e divulgado nesta sexta (23). Foram ouvidas 1.122 pessoas.

A curva de apoio às medidas subiu em especial após o ataque numa escola da Flórida, que deixou 17 mortos em fevereiro —e cujos sobreviven­tes convocaram a marcha deste sábado (24), que acontecerá em todo o país e promete reunir 500 mil pessoas em Washington.

Dois anos atrás, menos da metade (49%) dos americanos via correlação entre o controle de armas e os ataques a tiros. Hoje, 60% acreditam que tornar o acesso às armas mais restritivo pode diminuir o número de chacinas.

“Cada um tem sua própria opinião de como isso deveria ser feito, mas todos nós concordamo­s que é preciso mudar”, afirmou o estudante Alex Wind, 17, sobreviven­te do massacre na escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida, em entrevista à CNN.

Wind e seus colegas viraram celebridad­es entre os manifestan­tes, como presenciou a Folha.

“Você conheceu o David Hogg?”, perguntou eufórica a estudante Madison Tittle, 17, ao saber que o aluno secundaris­ta e um dos líderes do movimento estivera num evento em Washington.

Hogg, que vai se formar na Stoneman Douglas em junho, declarara em um debate que está concentrad­o “em mudar o futuro da América”, e comparou seu ativismo a uma missão. O adolescent­e de 17 anos vestia um blazer, calça jeans e tênis da Nike, com um adesivo na lapela: “We call BS” (algo como “É mentira”, em tradução livre), bordão dos estudantes sobre os argumentos pró-armas.

“Eles são um exemplo para mim. Foi a coragem deles que me inspirou a fazer algo.”

Tittle é de uma cidade conservado­ra do estado do Colorado. Ela caça desde criança, mas nunca havia pensado ou se posicionad­o sobre o tema até o ataque na Flórida.

“Eu não sou antiarmas, defendo a Segunda Emenda [que protege o porte de armas nos EUA], mas não precisamos de rifles automático­s ou do tipo AR-15”, disse ela, que liderou os protestos por mudanças da lei em sua cidade.

A pesquisa desta sexta mostra que, de fato, o apoio a regras mais restritiva­s se espraiou mesmo entre republican­os ou donos de armas.

Nesta sexta, o governo Trump propôs proibir os “bumpstocks”, mecanismo que permite disparar tiros mais rapidament­e, simulando uma arma automática –e que foi usado no ataque a tiros em Las Vegas, no ano passado, que deixou 58 mortos.

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