Era o amigo que todo moleque queria ter

FOLHA

O Miranda era uma força da natureza. Um tufão e uma delícia de conviver. Contava altas lorotas e falava a verdade na lata. Ganhou rios de dinheiro e gastou tudo em prazer — DVDs, games, bonecos, comida e bebida boa, só alegria.

Trabalhamos juntos nas revistas Bizz e Set, de música e cinema, suas grandes paixões. Depois o ajudei a criar um selo, e ele me ajudou a criar uma revista, e fomos nos ajudando a viver vida afora.

Virou “o” Miranda, produtor que todos os artistas iniciantes queriam conhecer, e depois jurado de TV. Mas tratava igual o famoso e o roqueirinho do interior que lhe entregava uma demo. Chamava todo mundo de “velhinho”, como seu ídolo Pernalonga.

As conversas sempre escorregavam para filmes, discos, quadrinhos —enciclopédico e onívoro, dava dicas sensacionais sem a menor afetação.

Quase na virada do ano, papeamos um tempão; não me contou que estava doente. Na semana passada me ligou, estava muito feliz. Seguia quase o tempo todo de cama, mas o médico tinha dito que ia escapar do transplante de fígado.

No final do nosso papo disse para ele: “Amanhã tá de bobeira? Passo aí na sua casa”. Não fui. Na última quarta foi seu aniversário. Mandei mensagem: “Feliz aniversário, brother. Presente: cama só para dormir e namorar. Abração!”. A resposta, a última: “Aeeee! Valeu!”.

Miranda viveu como quis, nos seus próprios termos. Era o amigo que todo moleque gostaria de ter. Na quinta, morreu após um mal súbito. Deixa, além da mulher, Bel, uma filhinha, Agnes, que nunca vai conhecer o pai mais divertido do mundo. coluna.obituario@grupofolha.com.br 7º DIA

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