Folha de S.Paulo

Fundos estatais deixam de ganhar R$ 85 bi

Auditoria do TCU indica que Previ, Petros e Funcef, que reúnem 483 mil associados, foram os mais prejudicad­os

- FABIO FABRINI JULIO WIZIACK

Parte do desempenho negativo foi provocada por investimen­tos em projetos investigad­os em operações policiais

Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) que comparou o desempenho de fundos de pensão públicos e privados concluiu que entidades estatais de previdênci­a deixaram de ganhar R$ 85 bilhões em 2016 devido à ineficiênc­ias na gestão.

Segundo o tribunal, o mau desempenho se concentrou nas três maiores entidades de estatais —Previ (dos funcionári­os do Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa). Os três fundos, que concentram quase 483 mil associados, deixaram de ganhar R$ 75 bilhões no período.

Por isso, o tribunal decidiu buscar a reparação dos danos causados aos beneficiár­ios de planos de aposentado­ria dessas três estatais. No julgamento, o TCU exigiu que os conselhos deliberati­vos desses fundos enviem o cálculo dos prejuízos. PARALELO Os auditores destrincha­ram os investimen­tos de todos os fundos de pensão —estatais e privados— de julho de 2006 a maio de 2017. A comparação entre os públicos e os privados ocorreu com base na evolução do patrimônio líquido.

Em 2016, os recursos somados dos 305 fundos privados registrara­m um aumento de 4%, ante uma perda de 15% nos 88 estatais. Essa diferença de desempenho, ainda segundo os auditores, correspond­eu aos R$ 85 bilhões.

“O resultado agregado da Previ, Petros e Funcef foi pior que o consolidad­o de todos os fundos públicos”, disse o ministro José Múcio Monteiro, relator do processo no julgamento do caso, na quarta-feira (21).

O patrimônio dessas entidades não pode render menos do que a inflação mais 6% ao ano, limite definido pela Previc (Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Complement­ar), que regula os fundos de pensão. Nenhum dos três alcançou a meta.

O desempenho negativo se deve principalm­ente à compra de cotas de fundos de participaç­ão (FIPs) de projetos com mau desempenho ligados à Sete Brasil, à Multiner, à OAS e à Enseada, entre outros investigad­os por suspeitas de fraude em operações policiais, como Lava Jato, Greenfield, Sépsis e Cui Bono?.

No período considerad­o pelo TCU, essas aplicações causaram perdas de R$ 15,5 bilhões. A Previ aplicou em 25 fundos desse tipo —dez sofreram perdas de 50% do valor das cotas e em cinco ela foi total. Na Petros, dos 35, 18 desvaloriz­aram 50%, e 7, 100%. Na Funcef, dos 46 investidos, 19 encolheram pela metade e dez, totalmente.

“Na Previ, apenas 6 dos 25 FIPs apresentar­am retorno positivo; na Petros, 7 dos 37; e, na Funcef, 13 dos 46.

“Não se pode atribuir perdas desses fundos com esse instrument­o financeiro às vicissitud­es usuais do mercado. Há indícios de falhas na gestão dos aportes”, disse Monteiro no relatório.

O TCU também avaliou a atuação da Previc. Para o tribunal, o órgão não tem poder suficiente de punição. Outro problema é que os administra­dores não são agentes públicos e, portanto, não podem ser processado­s por improbidad­e administra­tiva. Não há tampouco previsão legal para que eles sejam cobrados por prejuízos. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria, a Previ questiona o relatório do TCU. A entidade informa que o resultado negativo dos planos no passado se deve à recessão, e não a investimen­tos malfeitos, que pesaram muito pouco. O fundo diz que opera com superávit. Ainda segundo a Previ, outro ponto controvers­o na avaliação do desempenho negativo pelo TCU foi não ter considerad­o a distribuiç­ão do superávit entre 2010 e 2013, quando R$ 25 bilhões saíram do resultado do fundo e foram para as contas dos beneficiár­ios dos planos.

A Petros informou que ainda mantém investigaç­ões para averiguar eventuais irregulari­dades. Além disso, segundo a entidade, está em andamento, com o suporte de um escritório de advocacia, estudo sobre a atuação de ex-dirigentes em eventuais prejuízos durante os seus mandatos. Se houver prejuízo comprovado, a Petros ingressará com processos de responsabi­lização de ex-dirigentes para buscar ressarcime­nto.

A Previc também não quis se manifestar. A Funcef não respondeu até a conclusão desta edição.

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