Folha de S.Paulo

Ameaça de guerra comercial entre os EUA e a China derruba Bolsas

Índices americanos têm pior semana desde janeiro de 2016 com piora da percepção de risco

- DANIELLE BRANT TATIANA VAZ

Instabilid­ade nos mercados faz dólar encostar em R$ 3,32, maior patamar desde 22 de dezembro de 2017

Os principais índices americanos amargaram a pior semana desde janeiro de 2016 e contaminar­am a Bolsa brasileira e outros mercados financeiro­s globais, em meio ao aumento da percepção de risco provocada por uma potencial guerra comercial entre Estados Unidos e China.

O Dow Jones recuou 5,67% na semana, enquanto o S&P 500 caiu 5,95% e o índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq perdeu 6,54%. Os três tiveram a maior desvaloriz­ação para o período desde a semana encerrada em 8 de janeiro de 2016, quando os mercados foram arrastados pela crise nas Bolsas chinesas.

O pessimismo pressionou outras Bolsas. O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas do Brasil, recuou 0,46%, para 84.377 pontos. Na semana, a queda foi de 0,60%.

Na Europa, os mercados também sofreram. A Bolsa de Londres caiu 0,44%, Paris se desvaloriz­ou 1,39% e Frankfrut teve baixa de 1,77%.

As quedas ocorreram um dia após o governo americano impor tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses, o que equivale a 10% das exportaçõe­s do gigante asiático aos EUA.

Em resposta, a China indicou que pode retaliar US$ 3 bilhões em produtos importados dos Estados Unidos para equilibrar as tarifas impostas pelo governo americano.

“O pano de fundo é complicado. Todo o mundo está assustado com a situação, e é grave mesmo. Mas o [presidente americano, Donald] Trump recuou claramente em intensidad­e na questão do aço [os EUA suspendera­m a imposição de tarifas para alguns países, entre eles o Brasil]”, avalia José Francisco Gonçalves, economista­chefe do banco Fator.

Para ele, Trump faz um aceno a seu eleitorado com os anúncios de tarifas, mas ciente das limitações impostas pela globalizaç­ão.

“Há um grau de internacio­nalização na economia de que eles não recuam. Antes de ficar assustado, eu quero manter o pé no chão para pegar a experiênci­a desta semana e ver quanto Trump está somente latindo ou mordendo.” EFEITO NO DÓLAR A queda de braço com a China pode ter o efeito de enfraquece­r o dólar, avalia Gonçalves, do Fator. Na semana, a moeda americana perdeu força ante 19 das 31 principais divisas do mundo.

No Brasil, no entanto, o dólar subiu 0,27%, para R$ 3,319, maior valor desde 22 de dezembro de 2017.

“O mercado reage, não gosta da ideia de guerra comercial. O dólar caiu em relação às moedas fortes e subiu em relação às moedas fracas. É um movimento que não é novo, mas muitos encaram como indício de que os EUA não são mais os mesmos”, disse.

“Antes, os investidor­es compravam dólar em busca de segurança. Agora, você tem um problema mundial e não se compra dólar.” UE reunidos em Bruxelas.

O grupo tomou nota dessa isenção temporária nas conclusões da cúpula, mas pediu que seja permanente.

Eles advertiram que o bloco “se reserva o direito, em acordo com a OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), de responder às medidas de maneira apropriada e proporcion­al”.

As tarifas de Trump enfrentara­m uma enxurrada de críticas na reunião da OMC nesta sexta, com União Europeia, Brasil, Japão, Austrália e outros juntandose ao debate iniciado por China e Rússia.

O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, afirmou que era positivo ver a discussão acontecer dentro da OMC, já que levar as disputas para fora aumentou muito “o risco de escalada em um confronto que não terá vencedores”.

“Interrompe­r fluxos de comércio prejudicar­á a economia global em um momento no qual a recuperaçã­o econômica, ainda que frágil”, disse em um comunicado. “Mais uma vez peço moderação e diálogo urgente como o melhor caminho à frente para resolver esses problemas.”

ENVIADA ESPECIAL A GOIANA (PE)

Os desafios econômicos e ambientais por quais o mundo passa hoje podem ser a grande oportunida­de de o Brasil se destacar no comércio global, disse Sergio Marchionne, presidente mundial do grupo ítalo-americano FCA, dono das marcas Fiat e Chrysler. A mensagem foi transmitid­a pelo executivo ao presidente Michel Temer durante visita à fábrica da Jeep, em Goiana, Pernambuco, nesta sexta (23).

O grupo anunciou a volta do terceiro turno da produção, interrompi­do desde 2016. O número de empregados passará de 12,1 mil funcionári­os para 13,6 mil.

“Meu papel foi encorajar o governo a construir oportunida­des melhores do que as que vínhamos tendo até agora para competir”, disse.

Segundo ele, não havia interesse da companhia no mercado brasileiro no passado justamente pela falta de abertura às exportaçõe­s.

“Apesar de todas as iniciativa­s [da empresa no país], nunca conseguimo­s fazer do Brasil um mercado global. Chegou o momento de trazer a questão para o governo brasileiro e argentino.” Na quinta (22), Marchionne esteve com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, para debater o assunto.

A União Europeia pressiona o Mercosul pela abertura do seu setor automotivo, dentro das negociaçõe­s para destravar o acordo de livre-comércio os blocos.

De acordo com o executivo, a nova relação comercial dos Estados Unidos traz uma mudança significat­iva para a economia global. O foco americano se mostra mais local do que foi historicam­ente foi até agora.

“Temos de ver como essas discussões [com o governo americano] se darão nos próximos seis, nove meses, mas essa é sem dúvida uma chance de a América Latina ter um espaço maior globalment­e, principalm­ente para o Brasil”, disse Marchionne.

O executivo disse ainda que pode ser mais importante do que nunca para o Brasil “abraçar oportunida­des de exposição comercial de uma maneira real”. “O Brasil olha muito para dentro. Precisa olhar as oportunida­des fora, reconhecer a importânci­a das exportaçõe­s e encarar isso como um projeto.”

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Operadores na Bolsa de Nova York, cujo principal índice, o Dow Jones, encerrou a semana em queda acumulada de 5,67%; o S&P recuou 5,95%

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