Folha de S.Paulo

As universida­des num mundo em transforma­ção

Instituiçõ­es têm de se adaptar, ou ficarão obsoletas

- Marcelo Knobel Físico e reitor da Unicamp (Universida­de Estadual de Campinas) desde abril de 2017

Universida­des são instituiçõ­es cuja origem remonta à Idade Média. Se sobreviver­am ao passar do tempo e continuam relevantes até hoje, é porque souberamre­inventar-seeseadapt­aràs diferentes realidades de cada época.

Uma das exigências que o século 21 tem imposto às universida­des é a de que elas se aproximem da sociedade e estreitem suas relações com os diversos grupos que a compõem.

No mundo atual, já não há lugar para torres de marfim alheias às demandas que emergem no seu entorno. As universida­des não conseguirã­o resolver sozinhas as profundas desigualda­des socioeconô­micas, regionais e étnicas em nosso país e na América Latina. Mas podem, e devem, ser parte importante na busca dessas soluções, atuando como agentes transforma­dores do sistema econômico e social.

Para que possam contribuir de modo contundent­e para o desenvolvi­mento social e regional, é fundamenta­l que busquem novas ideias e boas práticas, mantendo, sempre, a flexibilid­ade para rever e mudar seus modelos conforme as necessidad­es da sociedade.

Mas realizar tais mudanças é tarefa que exige discussão e planejamen­to. Não por acaso, o tema será um dos eixos centrais de um importante encontro de dirigentes universitá­rios que ocorrerá a partir desta segunda-feira (21) na Espanha, o 4º Encontro Internacio­nal de Reitores Universia, com o tema “Universida­de, Sociedade e Futuro”, para o qual são esperados representa­ntes de cerca de cem instituiçõ­es brasileira­s e de outras 500 do exterior.

Reunidos na histórica Universida­de de Salamanca —uma legítima sobreviven­te da passagem do tempo, que comemora este ano seu oitavo centenário—, os participan­tes do encontro trocarão ideias e experiênci­as sobre como as universida­des podem preparar-se para responder com criativida­de e dinamismo às atuais demandas da sociedade.

O programa foi disposto em três eixos principais: formar e aprender em um mundo digital; pesquisar na universida­de, um paradigma em revisão?; e contribuiç­ão ao desenvolvi­mento social e regional, do qual sou coordenado­r.

Nesse terceiro eixo estará em debate, por exemplo, o desafio de formar recursos humanos qualificad­os para um mercado de trabalho em constante mutação. Como fazer isso sabendo que muitas das profissões do futuro ainda não foram nem sequer criadas? Certamente o caminho passa pela educação de cidadãos éticos, plenos e com bases sólidas para acompanhar as mudanças velozes de um mundo cada vez mais conectado e globalizad­o.

Serão também debatidos modelos de fomento ao empreended­orismo universitá­rio e como as universida­des devem refletir estrategic­amente diante dos objetivos de desenvolvi­mento sustentáve­l.

Essas reflexões devem, necessaria­mente, abarcar aspectos relacionad­os a acesso, permanênci­a, equidade, diversidad­e, excelência, internacio­nalização e inovação.

As mudanças, contudo, têm de ser ainda mais amplas não somente no interior das universida­des, mas também em toda a sociedade. A dimensão social precisa ser incorporad­a, de maneira transversa­l, às três áreas de atuação universitá­ria —o ensino, a pesquisa e a extensão. As universida­des precisam redobrar os esforços em comunicaçã­o, para mostrar à sociedade as suas inestimáve­is contribuiç­ões.

É preocupant­e assistir a uma nova geração de professore­s e pesquisado­res extremamen­te bem formados —a um alto custo— que não encontram bons empregos nem perspectiv­as de carreira acadêmica. E é inaceitáve­l acompanhar a redução de recursos para a pesquisa científica e para a formação de pós-graduandos. Temos no sistema de educação superior do país diversos exemplos bem-sucedidos, apesar do sistema de governança ultrapassa­do, salários reduzidos, ambiente estressant­e, futuro incerto e burocracia.

Nesse sentido, as universida­des devem mergulhar em uma profunda transforma­ção, planejando efetivamen­te a expansão de oportunida­des, realizando avaliação de qualidade, ampliando o impacto de suas pesquisas, repensando o desenvolvi­mento de currículos, definindo adequadame­nte o perfil de formandos, introduzin­do ferramenta­s de ensino modernas e possibilit­ando mais mobilidade dos estudantes.

O mundo se transforma de maneira avassalado­ra, e as universida­des têm de acompanhar essas mudanças, ou ficarão obsoletas.

Sebastião Salgado na Amazônia

O caderno deste domingo (20), além de muito bonito, alerta para a importânci­a de um valor: a diversidad­e. Ambiente e sociedade, em sua diversidad­e, constituem o patrimônio mais precioso. Sem o empenho dos estados e de cada um, seremos todos os prejudicad­os pelas perdas na pluralidad­e ambiental e humana. A beleza das fotos alerta para isso de maneira impression­ante.

Pedro Paulo A. Funari, professor do departamen­to de história da Unicamp (São Paulo, SP)

Lei da Anistia

O dr. Ives Gandra Martins estava sendo o dr. Ives Gandra Martins no artigo em que defende a não revisão da Lei da Anistia. Até aí tudo bem, ele que se entenda com sua consciênci­a. Não concordo com a integralid­ade dos seus argumentos, porém gostaria muito que ele nos revelasse como enquadrari­a os terrorista­s de Estado que promoveram a tentativa (graças a Deus malograda) do atentado do Riocentro, após a entrada em vigor da Lei da Anistia (“A Lei da Anistia é irrevogáve­l”, Tendências / Debates, 19/5).

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César Habert Paciornik

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