Folha de S.Paulo

Regra dos 4% diz quanto se deve poupar para aposentar

No Brasil, modelo é bom para investidor agressivo, já que aposta em ações

- -Michael Viriato Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio da Casa do Investidor Bolsa

são paulo Com a recente queda das taxas de juros, aqueles que estão próximos de se aposentar ou estão planejando a aposentado­ria, provavelme­nte, se questionam sobre as seguintes três dúvidas: quanto preciso possuir para me aposentar, quanto posso retirar por ano com essa soma, e se será suficiente por todo o prazo de minha aposentado­ria.

A convergênc­ia da taxa básica de juros brasileira para níveis mais próximos dos internacio­nais traz à discussão uma regra usualmente aceita no exterior sobre a taxa de retirada segura de recursos na aposentado­ria, a regra dos 4%, proposta por William Bengen e publicada em 1994 no Journal of Financial Planning.

Curiosamen­te as premissas de Bengen, na época de sua publicação, são próximas da realidade de taxas de retorno esperadas para o Brasil no atual momento. Seu estudo considerou como retorno esperado anual para renda fixa, bolsa e inflação, respectiva­mente as taxas de 5,2%, 10,3% e 3% ao ano. Atualmente, as taxas esperadas brasileira­s para os mesmos ativos podem ser considerad­as cerca de 1% maiores, ou seja, 6,4%, 11,3% e 4% ao ano.

Bengen verificou que para um indivíduo com 65 anos e com horizonte de retiradas na aposentado­ria de 30 anos, a taxa de retirada para que o portfólio seja suficiente seria de 4% no primeiro ano da aposentado­ria e esse valor ser corrigido pela inflação. Por exemplo, se tem R$300 mil aos 65 anos, poderia retirar R$12 mil (4% de R$ 300 mil) no primeiro ano e esse valor de retirada subir com a inflação nos 30 anos seguintes.

A simulação para chegar a regra do 4% foi realizada no intervalo de 1942 a 1992 e o portfólio considerou uma distribuiç­ão igual entre ações e renda fixa. Sempre que houvesse uma retirada, o portfólio deveria ser rebalancea­do.

Consideran­do essa distribuiç­ão de 50% em cada uma dessas de classes de ativos e os respectivo­s retornos, o portfólio era esperado render 8,2% ao ano, ou seja, 5,2% acima da inflação. Veja que esse retorno significa 128% do CDI atual e o retorno acima da inflação é similar ao alcançado com os títulos públicos brasileiro­s de longo prazo.

Seguindo essa regra dos 4%, se você deseja se aposentar com segurança aos 65 anos com uma renda de R$5 mil por mês, deveria ter um patrimônio de R$1,5 milhões. Com esse valor, poderia retirar R$60 mil (4% de R$ 1,5 milhão) no primeiro ano, pois por mês teria a retirada desejada. No ano seguinte, o valor de resgate seria R$60 mil corrigido pela inflação e assim por diante nos anos seguintes. Respeitand­o essa regra, Bengen está confortáve­l que no pior caso, seu portfólio seria suficiente para sua aposentado­ria até os 95 anos. Adicionalm­ente, na maioria dos cenários, seria possível deixar o portfólio original como herança.

Apesar de ser uma regra internacio­nalmente aplicada e simples para sanar as dúvidas iniciais, deve-se atentar para as caracterís­ticas de cada investidor. Os riscos de investimen­to em bolsa no Brasil são significat­ivamente maiores, então manter 50% em ações é considerad­o agressivo para quem se aposenta. Exemplo 2: poupança necessária para uma retirada mensal de R$ 5.000 durante 30 anos Por que a regra passou a ser considerad­a no Brasil Com a recente queda dos juros, as taxas de retorno ficaram próximas às premissas da regra na época de sua criação, em 1994 Renda fixa Inflação

Cenário para retorno segundo o estudo original, em %

5,2 3

Cenário atual do Brasil, em %

6,4 4

Realidade brasileira deve ser considerad­a

Os riscos de investimen­to em bolsa no Brasil são significat­ivamente maiores. Portanto, uma divisão de 50% em ações é considerad­a agressiva para quem se aposenta

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