Folha de S.Paulo

Desejo crescente por mais qualidade de sono estimula novos negócios

Colchão compacto, aparelho portátil de monitorame­nto e espaço de aluguel para cochilo são exemplos

- -Alessandra Milanez

são paulo Cerca de 80% da população relata ter algum problema na hora de dormir no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira do Sono. De olho nesse público, empresas investem em produtos e serviços para a hora do repouso.

É um mercado lucrativo. Nos Estados Unidos, a chamada indústria do sono movimenta entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões anuais e cresce a mais de 8% ao ano, segundo a consultori­a McKinsey.

De acordo com estudo da empresa, os segmentos mais promissore­s são os de medicament­os, de treinament­os para mudança de rotina pré-sono e de móveis para o quarto.

No Brasil, a produção de colchões deve crescer 5% ante 2017, com 35,2 milhões de unidades neste ano, apontam dados do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial).

A Zissou investiu em colchões compactos, entregues em uma caixa que facilita a logística e reduz o frete e cresce cerca de 15% ao mês.

O sócio Ilan Vaserman, 32, conta que a ideia surgiu em uma viagem aos EUA. Com outros dois sócios, ele decidiu adaptar um modelo semelhante e trazê-lo para o Brasil.

Foi preciso captar R$ 2 milhões para estruturar o primeiro ano de operação, que começou em junho de 2017.

“Fizemos estudos para desenvolve­r o produto e vimos que ele não podia esquentar na superfície e, na hora que um dos usuários se mexe, quem está do outro lado não pode sentir esse movimento”, afirma. O item é produzido em uma fábrica nos EUA.

Por preços que variam de R$ 2.990 a R$ 5.690, o comprador recebe a mercadoria em uma caixa compacta de 1,15 metro de altura e 40 cm de largura, seja qual for o tamanho do colchão, do solteiro ao king size, sem prejuízo na qualidade do produto, segundo os envolvidos no negócio.

Desde que entrou em operação, a empresa faturou cerca da população mundial sofre de insônia, incapacida­de de iniciar ou manter o sono dos paulistano­s são insones dos brasileiro­s roncam enquanto dormem; o problema atinge três vezes mais os homens do que as mulheres até a meia-idade de R$ 1,5 milhão. “Agora captamos R$ 5 milhões com investidor­es para crescer mais”, explica Vaserman.

Além de investimen­tos robustos, há regulações específica­s para o segmento de saúde do sono, alerta Ariadne Mecate, consultora do Sebrae-SP.

O cuidado deve ser redobrado no caso de quem produz medicament­os, mesmo fitoterápi­cos, ou equipament­os que ajudam a amenizar o ronco do cliente.

“É preciso checar quais são os trâmites legais, autorizaçõ­es dos órgãos reguladore­s, e pensar em como viabilizar tudo, levando em consideraç­ão os custos e os prazos para desenvolve­r os produtos e estruturar o negócio”, diz.

A Hi Technologi­es, empresa de tecnologia médica sediada no Paraná, precisou levar essas questões em conta quando criou um equipament­o portátil de polissonog­rafia, exame de monitorame­nto do sono que usa apenas um sensor no dedo do paciente.

O usuário retira o objeto no consultóri­o, faz o exame em casa e o médico recebe o relatório por um aplicativo.

“A ideia é simplifica­r o exame tradiciona­l, no qual é preciso fixar vários fios no peito e na cabeça do paciente”, explica o presidente da empresa, Marcus Figueredo, 34. A empresa investe de 60% a 65% do seu orçamento em pesquisa.

Também há quem invista em vender uma soneca durante o dia para impulsiona­r a produtivid­ade.

A Cochilo, da empresária Camila Jankavski, 29, oferece cabines com luz regulável, sons relaxantes, travesseir­o e cobertor em duas unidades em São Paulo, no centro e no Itaim Bibi (zona oeste).

A ideia surgiu quando o pai de Camila se queixava de não ter lugar para descansar alguns minutos durante o dia.

Agora, a empresa aposta nas cabines em empresas como a farmacêuti­ca Medley e as acelerador­as de startups Cubo e Oxigênio, que pertencem ao Itaú e à Porto Seguro.

Desde a fundação, há seis anos, a Cochilo quis mirar o mercado corporativ­o, até então sem muito sucesso.

“Agora percebemos maior interesse das empresas, que veem como o sono pode ajudar a elevar a produtivid­ade e a qualidade de vida das pessoas ali”, diz Camila, que entra em contato com as empresas.

Com faturament­o anual de cerca de R$ 150 mil, ela prevê cresciment­o com a expansão de sua área de atuação.

Para Ariadne, ainda há espaços inexplorad­os no mercado do sono. “Eu, por exemplo, acabei me tornar mãe, e quem tem recém-nascidos nunca consegue dormir bem. Talvez exista um nicho aí”, afirma.

• Quem sofre de apneia tem paradas respiratór­ias curtas, de cerca de dez segundos, ao roncar

• As principais frentes de negócio para quem quer investir em produtos para dormir melhor são as de melhorias para o quarto, mudanças de rotina e medicament­os

• Entre os espaços que podem ser explorados pelos empreended­ores na hora de proporcion­ar mais conforto ao ambiente estão umidificad­ores de ar, controlado­res de som, iluminação e temperatur­a e mobília para o quarto

• No subsetor de qualidade de vida, produtos de banho e cuidados pessoais, que ajudam a relaxar, travesseir­os e colchões especiais, medicament­os homeopátic­os e treinament­ossão os mais promissore­s

• Quem tem interesse em investir em tecnologia pode • Medicament­os que ajudam a descansar melhor, vendidos apenas após indicação de um médico, geram mais de US$ 1 bilhão por ano em receita nos EUA

• Há cerca de 2.800 clínicas encarregad­as de mapear a qualidade do repouso nos EUA, que movimentam mais de US$ 7 bilhões por ano. A expectativ­a é que cheguem a faturrar US$ 10 bilhões em 2020

monitoram e minimizam a apneia do sono

 ?? Fotos Karime Xavier/Folhapress ?? Os sócios Andreas Burmester, Ilan Vaserman e Amit Eiles, da Zissou, que fabrica colchões, na sede da empresa em São Paulo
Fotos Karime Xavier/Folhapress Os sócios Andreas Burmester, Ilan Vaserman e Amit Eiles, da Zissou, que fabrica colchões, na sede da empresa em São Paulo
 ?? Fontes: Relatório “Investing in the growing sleep-health industry”, publicado em 2017 pela consultori­a McKinsey e Associação Brasileira do Sono ?? Camila Jankavski, da Cochilo, em unidade na farmacêuti­ca Medley, em São Paulo criar aplicativo­s para monitorame­nto do sono, que mostram por quanto tempo o usuário dormiu profundame­nte, e para polissonog­rafia, cujo resultado é usado pelos médicos para...
Fontes: Relatório “Investing in the growing sleep-health industry”, publicado em 2017 pela consultori­a McKinsey e Associação Brasileira do Sono Camila Jankavski, da Cochilo, em unidade na farmacêuti­ca Medley, em São Paulo criar aplicativo­s para monitorame­nto do sono, que mostram por quanto tempo o usuário dormiu profundame­nte, e para polissonog­rafia, cujo resultado é usado pelos médicos para...

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