Folha de S.Paulo

Só 8% dos PMs saem ilesos de ataques em SP

- -Rogério Pagnan

Mesmo armado, policial militar dificilmen­te não é ferido ou morto ao ser alvo de assalto ou tentativa de homicídio são paulo O soldado José Luís Alves, 43, entrava em um banco quando desconfiou de um homem que chegava apressado. Levou a mão à arma na cintura e ameaçou sacá-la, mas desistiu assim que percebeu o suspeito vestido de gari. Repreendeu-se intimament­e por desconfiar de tudo (e de todos) e logo baixou a guarda.

O tiro de revólver atingiu o lado esquerdo de seu rosto, pouco abaixo do olho, jogando-o ao solo. Olhando para seu próprio sangue escorrendo pelo concreto, notou o criminoso vestido de gari atirar mais uma vez na direção de sua nuca. Teve ali a certeza de sua morte e só lamentou a má sorte.

“Que lugar ruim para morrer. Uma segunda-feira, na porta de um banco e vindo pagar conta”, pensou o policial, conforme se lembraria dez anos depois do ataque sofrido em 26 de maio de 2008.

Por uma sorte difícil de explicar, José Luís não morreu, ganhou o apelido de “vaso ruim” e entrou para uma triste estatístic­a de policiais militares atacados em São Paulo que, mesmo armados e treinados, acabam levando a pior em situações semelhante­s.

Levantamen­to inédito feito pela Folha com base em relatórios sigilosos da PM de São Paulo mostra que, de cada dez ataques a policiais, em nove eles acabam feridos ou mortos. A maioria em roubos, envolvendo soldados.

Os dados mostram ainda que em cerca de 23% dos crimes, além de atacar o policial, os bandidos ainda levam a arma dele. E há episódios em que o PM é morto com a própria pistola, aquela que carregava para se proteger —isso ocorreu em 4% dos casos.

Esses números são resultado de análise feita pela Folha em 491 relatórios de PMs vítimas, documentos elaborados de 2006 a 2013 por equipes da Corregedor­ia da PM especializ­adas em investigar ataques desse tipo no estado.

Segundo os dados, desses 491 policiais com registro de violência, 218 foram mortos e 233 ficaram feridos —sendo ao menos 81 deles atingidos na cabeça por tiro ou paulada. No total, só 40 saíram ilesos, o equivalent­e a 8% do total.

Os documentos descrevem as circunstân­cias em que os crimes se deram, as primeiras informaçõe­s sobre o estado de saúde do policial militar e o destino do criminoso.

Essas apurações são abertas quando o PM é atacado e figura na condição de vítima, como em casos de roubos ou assassinat­os, além de tentativas desses dois crimes.

Não entraria nessa lista, portanto, o recente caso da PM que baleou e matou um criminoso na porta da escola da filha, em Suzano, na Grande São Paulo, já que ela não era o alvo do crime e interveio ali de surpresa como policial.

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Eduardo Anizelli/ Folhapress Gedalva, 66, ao lado do filho Gilmar, 41, com a foto de seu outro filho, Osmar, PM morto em 2012

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