Folha de S.Paulo

Um terço das áreas protegidas sofre pressão humana significat­iva

- AFP

tampa (eua) Autoestrad­as, poços de petróleo, pastos e até mesmo cidades surgem no meio de zonas que deveriam estar protegidas, mostraram pesquisado­res após analisarem milhões de km2 de áreas sob algum status especial de proteção no planeta.

Um terço das áreas oficialmen­te designadas como “protegidas” suportam uma “pressão humana significat­iva”, conclui o relatório publicado na semana passada na revista científica Science.

Sob tais condições, em 6 milhões de km2 de terras protegidas, o equivalent­e a pouco mais de dois terços da área do Brasil, a proteção de espécies em perigo diminui rapidament­e.

“Só 10% das terras estão completame­nte sem atividade humana, mas a maioria dessas áreas se encontra em lugares remotos, em países de latitude alta como Rússia e Canadá”, acrescenta o relatório.

O problema é urgente na Ásia, Europa e África, diz um dos autores do estudo, James Watson, diretor de pesquisa da Wildlife Conservati­ve Society.

“A maioria dos países está dando o primeiro passo e criando áreas protegidas, mas estão se esquecendo do trabalho mais difícil e importante, que consiste em financiar a gestão dessas áreas protegidas a fim de evitar qualquer ingerência humana importante”, diz.

O princípio por trás dos parques, florestas, montanhas ou áreas marinhas protegidas é proporcion­ar refúgio para aves, mamíferos e fauna marinha, com o objetivo de preservar a biodiversi­dade.

A comunidade internacio­nal tomou consciênci­a disso. Desde 1992, a superfície de espaços declarados protegidos dobrou. Mas, de um extremo ao outro do planeta, abundam exemplos de infraestru­turas humanas construída­s dentro de reservas naturais.

No Quênia uma linha ferroviári­a atravessa os parques nacionais de Tsavo, lar do ameaçado rinoceront­e-negro. Na Austrália, no parque nacional de Barrow Island, habitat natural de um tipo de wallabies (pequenos cangurus) e de outros marsupiais em risco, são realizadas exploraçõe­s petroleira­s.

Na ilha indonésia de Sumatra mais de 100 mil pessoas assentaram-se ilegalment­e no Parque Nacional Bukit Barisan Selatan, ocupando terras de tigres-de-Sumatra, orangotang­os e rinoceront­es. Cerca de 15% do parque está agora coberto por plantações de café.

E nos EUA, os grandes parques de Yosemite e Yellowston­e viram crescer “infraestru­turas turísticas cada vez mais sofisticad­as dentro de suas fronteiras”. “Descobrimo­s grandes infraestru­turas rodoviária­s como autopistas, agricultur­a industrial e inclusive cidades inteiras dentro de áreas que deveriam estar dedicadas à proteção da natureza”, afirma outro autor, Kendall Jones, pesquisado­r na Universida­de de Queensland, Austrália.

No total, mais de 90% das áreas protegidas do mundo, como reservas e parques naturais, estão submetidas a “atividades humanas prejudicia­is”.

Para deter os danos, os cientistas instam os países a fornecerem os fundos necessário­s para a proteção da biodiversi­dade dentro de suas fronteiras.

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Fernanda Preto/Folhapress Desmatamen­to ilegal na Reserva Uatumã

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