Ataque de Cid Gomes põe em xeque frente contra Bolsonaro
Para tentar reduzir a desvantagem de Haddad, campanha do PT investirá no eleitorado mais pobre e em evangélicos
Com o fracasso na articulação de uma frente pluripartidária em apoio a Fernando Haddad, a campanha do PT ao Planalto admite ajustes para tentar ampliar as alianças. A ordem é investir no eleitorado mais pobre e em grupos de evangélicos, juristas, artistas e intelectuais.
A decisão reflete a preocupação de conter o avanço de Jair Bolsonaro (PSL) —segundo o Datafolha, a distância é de 16 pontos. Anteontem, duro discurso de Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro Gomes, contra o PT pôs em xeque o plano de arco democrático para contrapor o deputado.
Haddad esperava formar frente com atores políticos importantes, como Ciro e Marina Silva (Rede). Também tentou apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, mas as tratativas não avançaram.
“Não admitir os erros que cometeram é para perder a eleição. Vão perder feio
Após o fiasco na articulação de uma frente democrática em apoio a Fernando Haddad, a campanha do PT ao Planalto admite ajustes no segundo turno e ainda tenta ampliar as alianças com outros setores da sociedade.
Com ataques ao PT feitos pelo senador Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, e diante das dificuldades para dilatar seu arco político, a ordem no QG petista é investir no eleitorado mais pobre e em grupos de evangélicos, juristas, artistas e intelectuais —que tradicionalmente já apoiavam o PT.
Nesta quarta (17), Haddad vai se reunir com lideranças evangélicas em São Paulo. Ele preparou uma carta em que se compromete com a defesa da vida e valores da família.
O ato é reflexo da preocupação dos petistas em conter o avanço de Jair Bolsonaro (PSL) inclusive entre o eleitorado lulista, como pobres, nordestinos e religiosos.
Segundo o Datafolha, 70% dos evangélicos (em votos válidos) estão com o capitão reformado. O candidato do PSL tem 18 pontos sobre o petista segundo o Ibope de segunda (15) —59%, contra 41%.
Para diminuir essa diferença, o herdeiro de Lula esperava formar uma frente com atores políticos importantes, como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas as tratativas não avançaram.
A cúpula da campanha de Haddad admite que o duro discurso de Cid Gomes, senador eleito e irmão de Ciro, colocou em xeque o plano de um arco democrático para se contrapor a Bolsonaro.
Durante evento no Ceará em apoio ao petista, na segundafeira (15), Cid criticou o PT e chamou militantes que o vaiavam de “babacas”. Ele chegou a afirmar que o partido merecia perder a eleição. “Não admitir os erros que cometeram é para perder a eleição. Vão perder feio”, disse o ex-governador do Ceará, cobrando um mea culpa dos petistas.
Nesta terça (16), Cid disse à Folha que não tem raiva do PT, afirmou que Haddad “é o melhor” candidato, mas que é necessário ao comando da sigla ter humildade. “Não pode achar que o povo está errado e a gente está certo.”
A postura de Cid alarmou
Cid Gomes senador eleito pelo Ceará e irmão de Ciro Gomes (PDT), em discurso no Ceará na segunda (15)
ainda mais a campanha do PT, mas não foi o primeiro sinal de que a frente democrática está fazendo água a 11 dias do segundo turno.
Na semana passada, Haddad ficou preocupado com a viagem de Ciro à Europa após o PDT anunciar um “apoio crítico” à sua candidatura.
Os petistas entenderam que seria cada vez mais difícil levar Ciro para o comando da campanha, com uma participação ativa, como era o desejo de Haddad, e agora já não esperam mais nada do terceiro colocado no primeiro turno.
Em entrevista nesta terça, Haddad minimizou a fala de Cid, disse que não havia assistido ao vídeo na íntegra e que a discussão é “meio acalorada”.
“Essa coisa é meio acalorada mas eu não vou ficar comentando isso até porque eu tenho uma amizade pessoal com o Cid, ele fez elogios à minha pessoa, prefiro sempre olhar o lado positivo”, disse.
A campanha de Bolsonaro, por sua vez, apressou-se para explorar a polêmica e levou o discurso de Cid ao seu programa na TV. “Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, fala a verdade que o PT não aceita”, diz o locutor na abertura da peça.
Na tentativa de evitar o desmoronamento completo do plano de formar sua frente, Haddad acelerou a aproximação com FHC e telefonou, nesta segunda, para o superintendente do Instituto FHC, Sérgio Fausto, mas nada de concreto foi fechado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente afirmou que havia possibilidade de uma “porta” de diálogo para Haddad. O tucano e o petista têm boa relação e conversavam diretamente antes da campanha.
Haddad nunca acreditou em declaração de apoio público à sua candidatura por parte de FHC, mas avalia que o tucano, ao rechaçar Bolsonaro, pode participar de uma plataforma em defesa dos valores democráticos. FHC é a tentativa de peso para o projeto após o petista ver, além de Ciro, Marina e até Henrique Meirelles (MDB) declararem neutralidade no segundo turno.
Articulador político da campanha do PT, Jaques Wagner minimizou o fracasso dos acordos e chegou a dizer que desconhecia a ideia da formação da frente —ecoada por ele mesmo e pelo candidato des- de a semana passada. Segundo Wagner, a tese era de “ampliar com a sociedade” e todos os recados já foram dados.
Haddad esteve também com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa na semana passada, mas a conversa foi pouco assertiva. Barbosa, que poderia ser ministro da Justiça de um eventual governo do PT, de acordo com aliados do candidato, declarou estar preocupado com o país, porém não deu sinal de que vai firmar acordo publicamente com o petista.