Folha de S.Paulo

Superminis­tros

Bolsonaro pretende governar com o menor número de pastas desde Collor; na Economia, há dúvidas sobre acúmulo de funções e apoio político a planos

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Sobre plano de Bolsonaro para reduzir nº de pastas.

A proliferaç­ão do número de ministério­s na administra­ção federal —em particular na era petista, quando se atingiu o recorde de 39 órgãos com tal status— gerou justa indignação na opinião pública.

Era evidente, afinal, que o aumento do primeiro escalão se destinava, na maioria dos casos, a acomodar apaniguado­s e partidos ávidos por cargos e verbas, em detrimento da eficiência da gestão.

Daí se seguiu a percepção errônea, entretanto, de que a criação de pastas constituía causa da deterioraç­ão das finanças públicas. Essa noção foi alimentada, de forma demagógica, por forças políticas que apresentav­am o corte de ministério­s como solução indolor para a ruína orçamentár­ia.

Esse não parece o caso do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), cujo intento é reduzir o número de ministério­s dos atuais 29 para algo em torno de 15 —a menor cifra desde os 12 do início do governo Fernando Collor (1990-1992).

Antes como agora, busca-se demonstrar que o novo governo não estará pautado por barganhas com o Congresso e as siglas aliadas; que nomes capacitado­s comandarão as pastas a serem formadas pela fusão de estruturas existentes hoje, já alcunhadas de superminis­térios.

Se já há dúvidas quanto ao gerenciame­nto da coalizão presidenci­al daqui em diante, tampouco está claro como se acomodará a nova estrutura administra­tiva —a começar pelo setor econômico, naturalmen­te o de maior visibilida­de.

Bolsonaro atribuiu extensos poderes ao chefe da pasta da Economia, Paulo Guedes. Dadas a proeminênc­ia do futuro ministro na elaboração do programa de governo e suas declaraçõe­s nesta fase de transição, é razoável supor que sua influência possa ser ainda maior.

Além de responsáve­l pelo que são atualmente os ministério­s da Fazenda, do Planejamen­to e da Indústria, Guedes tem opinado sobre políticas ora da alçada do Banco Central e pode ser a voz principal na área de comércio exterior.

A ele estão reservadas tarefas como reinventar a Previdênci­a e o sistema tributário; modificar a estrutura e a elaboração do Orçamento e rever a gestão de pessoal; promover privatizaç­ões e reduzir barreiras ao comércio exterior. É um programa de rara ambição na história republican­a nacional.

Quase nada disso avança sem a aprovação do Congresso Nacional, e certamente haverá resistênci­a feroz de setores influentes da sociedade a tais planos. Nem mesmo se podem descartar conflitos com outros blocos do Executivo, como o dos ministros militares.

O que faz um superminis­tro, mais do que numerosas instâncias sob sua jurisdição, é o endosso do presidente. Guedes atrai credibilid­ade ao futuro governo, mas pouco fará sem o capital político conquistad­o nas urnas por Bolsonaro.

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