Folha de S.Paulo

Competição no

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Acerca de medida que facilita atuação de fintechs.

Em boa hora o governo decidiu, por meio de decreto, simplifica­r o processo de autorizaçã­o para que investidor­es estrangeir­os possam participar de plataforma­s eletrônica­s de concessão de crédito.

A mudança se insere numa necessária e extensa agenda de fomento à competição no setor, que tem sido prioridade do Banco Central.

A partir de agora, as chamadas fintechs —empresas de tecnologia aplicada ao segmento— que atuem em financiame­nto poderão receber capital internacio­nal sem que seja necessária a anuência específica da Presidênci­a.

A mudança vale apenas para as pessoas jurídicas constituíd­as como Sociedades de Crédito Direto, que atuam com recursos próprios, ou Sociedades de Empréstimo entre Pessoas, aquelas que fazem a intermedia­ção entre poupadores e tomadores de crédito.

Ambas as modalidade­s são classifica­das como instituiçõ­es financeira­s, estando, portanto, sob a regulação do BC, mas diferem dos bancos por não captarem recursos de terceiros.

O requisito de autorizaçã­o do Planalto vem dos tempos em que participan­tes externos eram analisados sob a ótica do interesse nacional, em especial quanto à estabilida­de financeira. Tal premissa continua válida para bancos, sobretudo os de grande porte, mas pode ser flexibiliz­ada no caso de pequenos provedores de serviços.

A consequênc­ia será facilitar o aporte de recursos às fintechs e o desenvolvi­mento de alternativ­as aos bancos, dado que a manifestaç­ão do Poder Executivo costumava levar até dois anos —prazo excessivo no mundo da tecnologia.

Se até a década passada o foco do BC era assegurar a solidez do sistema contra crises, o que o levou a facilitar e mesmo encorajar a concentraç­ão bancária, agora o contexto é diferente.

Já se vão muitos anos de debates sobre os níveis anômalos dos juros bancários no Brasil, que destoam em qualquer comparação global.

Não é aceitável que as taxas cobradas de consumidor­es e empresas continuem a se situar entre as mais altas do mundo —e que o aparato regulatóri­o privilegie o statu quo. Nesse sentido, há um amplo rol de medidas a considerar.

Além de facilitar a entrada de novos participan­tes no mercado de crédito e em serviços como cartões, urge disseminar os dados de bons pagadores por meio do aperfeiçoa­mento do cadastro positivo (em tramitação no Congresso), reforçar a qualidade das garantias e promover a educação financeira.

Felizmente, essas melhorias têm sido apoiadas pelo BC no período mais recente. O novo governo deveria dar continuida­de a tal agenda.

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