Folha de S.Paulo

Decisão sobre família de Lula pode afetar filhos do presidente

Veto atingiria as candidatur­as de Eduardo e Flávio Bolsonaro a prefeito em 2020

- -Rodrigo Borges Delfim

Com votações expressiva­s, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e seu irmão, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), têm sido citados como potenciais candidatos para disputar prefeitura­s em 2020.

Mas uma decisão que barrou a candidatur­a de um enteado do ex-presidente Lula há dez anos pode ser empecilho para isso.

Os filhos de Bolsonaro esbarram em um dispositiv­o na Constituiç­ão conhecido como “inelegibil­idade por parentesco”.

Previsto no artigo 14, determina em seu parágrafo 7º que “são inelegívei­s, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguín­eos ou afins, até o segundo grau ou por adoção”, do presidente, governador­es ou prefeitos —salvo se for candidatur­a à reeleição.

Foi esse dispositiv­o que barrou a candidatur­a de Marcos Claudio Lula da Silva a vereador em São Bernardo do Campo (SP) em maio de 2008, por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Lula estava em seu segundo mandato como presidente.

Na época, considerou-se que o território de jurisdição de Lula era todo o país. Assim, a aplicar-se a mesma regra, Eduardo e Flávio, especulado­s como candidatos a prefeito de São Paulo e Rio respectiva­mente, estariam impossibil­itados de concorrer.

Já Carlos Bolsonaro (PSCRJ), outro filho do presidente eleito e que é vereador no Rio de Janeiro, poderia concorrer, mas apenas à reeleição.

No entanto, especialis­tas ouvidos pela Folha afirmam que poderia haver uma reinterpre­tação do caso. Para eles, o conceito de jurisdição na Constituiç­ão dá margem para duas linhas distintas de exame.

“O texto [da Constituiç­ão] é meio sofrível nessa parte, em não ser claro sobre o que é essa circunscri­ção. Porque o município está dentro da nação, mas não é circunscri­ção federal. Aliás, nem a eleição é a mesma”, pondera Diogo Rais, professor de direito eleitoral da Universida­de Mackenzie e FGV.

A outra linha de interpreta­ção, que foi voto vencido no julgamento da candidatur­a do enteado do ex-presidente Lula, defende que a jurisdição do presidente é válida apenas para cargos federais.

Por essa visão, os três filhos de Bolsonaro estariam aptos para disputar as eleições de 2020.

“Os ministros do TSE e os juízes dos tribunais eleitorais servem por dois anos e nunca por mais de dois biênios consecutiv­os, o que pode trazer uma grande dinâmica para a jurisprudê­ncia”, diz a ex-assessora de Comunicaçã­o do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) Eliana Passarelli, que não descarta mudanças futuras no entendimen­to da Justiça sobre o assunto.

Rais também acredita em uma possível releitura da norma, à medida que se aproximar o próximo pleito.

“Creio que isso vai voltar para o Judiciário em 2020, porque a redação do artigo [da Constituiç­ão] é controvers­a e há defesas nos dois sentidos. A última decisão que tivemos é de vedação desse direito. Porém, foi em outro tempo”, declarou.

O dispositiv­o da inelegibil­idade por parentesco previs- to na Constituiç­ão tem como função evitar favorecime­ntos dos titulares de cargos executivos em relação aos seus parentes e também para que não haja perpetuaçã­o no poder por grupos familiares.

Além do clã dos Bolsonaro, outros dois exemplos de famí- lias que conseguira­m emplacar mais de um candidato nas urnas neste ano são os Barbalho, no Pará, e os Calheiros, em Alagoas.

Enquanto os filhos conquistar­am os governos locais, os pais se reelegeram para o Senado.

“No caso dos detentores de cargos no Legislativ­o, o favorecime­nto do parente em razão do cargo público é mais complexo, uma vez que não há decisão individual, é necessário que muitos concordem para que haja o favorecime­nto”, explica Passarelli.

 ?? Reprodução ?? Três dos filhos de Jair Bolsonaro (a partir da esq., Carlos, Flávio e Eduardo) em foto divulgada nas redes sociais
Reprodução Três dos filhos de Jair Bolsonaro (a partir da esq., Carlos, Flávio e Eduardo) em foto divulgada nas redes sociais

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