Críticas a Soros vão dos confins da internet ao centro político
Horas depois de ser informado, na semana passada, que um artefato explosivo tinha sido entregue em sua casa em um subúrbio de Nova York, o bilionário e doador democrata George Soros telefonou a colegas para discutir mais uma ameaça: a repressão pelo governo autoritário húngaro a uma universidade que ele fundou.
Não é coincidência o fato de Soros enfrentar oposição e ameaças simultaneamente em dois países. Uma rede de ativistas e políticos da direita procura há anos retratar Soros não apenas como adversário dotado de enormes recursos financeiros mas também como a personificação de tudo que detestam.
Usando uma pouco disfarçada linguagem antissemita, montaram um retrato distorcido de Soros como sendo o cérebro de um movimento globalista, um radical de esquerda que defenderia a diluição da natureza branca e cristã das sociedades por meio da imigração. Elas impeliram sua descrição de Soros, 88, dos confins da internet e dos programas nas rádios para um lugar central na discussão política.
“Soros é vilipendiado porque ele é eficaz”, disse Steve Bannon, ex-estrategista de campanha de Donald Trump e assessor da Casa Branca. Hoje Bannon está tentando promover um movimento nacionalista na Europa e nos Estados Unidos que aspira explicitamente espelhar e combater a influência construída por Soros junto à esquerda.
Nos últimos dias da corrida das eleições legislativas nos EUA, o bilionário é descrito como o financiador da caravana de imigrantes, uma presença do Estado profundo na burocracia federal e a mão oculta por trás dos protestos contra o indicado de Trump à Suprema Corte, Brett Kavanaugh.
Na Europa, o esforço para vilipendiá-lo tem sido alimentado por líderes nacionalistas como o premiê húngaro, Viktor Orbán, e políticos de países com passado comunista.
Soros doou US$ 32 bilhões (R$ 118 bilhões) à sua organização principal, a Open Society Foundations, para serem usados em esforços que a entidade descreve como construção da democracia nos EUA e no mundo. Além disso, nos Estados Unidos Soros doou mais de US$ 75 milhões (R$ 277 milhões) ao longo dos anos a candidatos.
Trump e seus aliados deram destaque a Soros com a narrativa que construíram para as semanas finais da campanha das eleições. Eles atribuíram ao investidor papéis-chave tanto na ameaça representada pelos imigrantes quanto no que descreveram como turbas democratas que protestaram contra a escolha de Kavanaugh para a Suprema Corte.
O presidente sorriu na sexta-feira (26) quando partidários na Casa Branca reagiram a ataques a democratas e “globalistas” gritando “Lock ‘em up” (prendam-nos) e “George Soros”.
Neste ciclo eleitoral, Soros já doou mais de US$ 15 milhões (R$ 55,4 milhões) a candidatos democratas.