Folha de S.Paulo

Críticas a Soros vão dos confins da internet ao centro político

- Kenneth P. Vogel , Scott Shane e Patrick Kingsley The New York Times, com tradução de Clara Allain

Horas depois de ser informado, na semana passada, que um artefato explosivo tinha sido entregue em sua casa em um subúrbio de Nova York, o bilionário e doador democrata George Soros telefonou a colegas para discutir mais uma ameaça: a repressão pelo governo autoritári­o húngaro a uma universida­de que ele fundou.

Não é coincidênc­ia o fato de Soros enfrentar oposição e ameaças simultanea­mente em dois países. Uma rede de ativistas e políticos da direita procura há anos retratar Soros não apenas como adversário dotado de enormes recursos financeiro­s mas também como a personific­ação de tudo que detestam.

Usando uma pouco disfarçada linguagem antissemit­a, montaram um retrato distorcido de Soros como sendo o cérebro de um movimento globalista, um radical de esquerda que defenderia a diluição da natureza branca e cristã das sociedades por meio da imigração. Elas impeliram sua descrição de Soros, 88, dos confins da internet e dos programas nas rádios para um lugar central na discussão política.

“Soros é vilipendia­do porque ele é eficaz”, disse Steve Bannon, ex-estrategis­ta de campanha de Donald Trump e assessor da Casa Branca. Hoje Bannon está tentando promover um movimento nacionalis­ta na Europa e nos Estados Unidos que aspira explicitam­ente espelhar e combater a influência construída por Soros junto à esquerda.

Nos últimos dias da corrida das eleições legislativ­as nos EUA, o bilionário é descrito como o financiado­r da caravana de imigrantes, uma presença do Estado profundo na burocracia federal e a mão oculta por trás dos protestos contra o indicado de Trump à Suprema Corte, Brett Kavanaugh.

Na Europa, o esforço para vilipendiá-lo tem sido alimentado por líderes nacionalis­tas como o premiê húngaro, Viktor Orbán, e políticos de países com passado comunista.

Soros doou US$ 32 bilhões (R$ 118 bilhões) à sua organizaçã­o principal, a Open Society Foundation­s, para serem usados em esforços que a entidade descreve como construção da democracia nos EUA e no mundo. Além disso, nos Estados Unidos Soros doou mais de US$ 75 milhões (R$ 277 milhões) ao longo dos anos a candidatos.

Trump e seus aliados deram destaque a Soros com a narrativa que construíra­m para as semanas finais da campanha das eleições. Eles atribuíram ao investidor papéis-chave tanto na ameaça representa­da pelos imigrantes quanto no que descrevera­m como turbas democratas que protestara­m contra a escolha de Kavanaugh para a Suprema Corte.

O presidente sorriu na sexta-feira (26) quando partidário­s na Casa Branca reagiram a ataques a democratas e “globalista­s” gritando “Lock ‘em up” (prendam-nos) e “George Soros”.

Neste ciclo eleitoral, Soros já doou mais de US$ 15 milhões (R$ 55,4 milhões) a candidatos democratas.

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