Folha de S.Paulo

Livro conta história de ação bilionária contra Petrobras

Defensor de acionistas discute caso que levou a acordo de US$ 2,95 bilhões

- Nicola Pamplona Tadeu Brunelli

Em “A Maior Ação do Mundo”, o advogado André de Almeida conta a história da ação coletiva aberta na Justiça dos Estados Unidos para pedir indenizaçã­o a investidor­es que perderam dinheiro com papéis da Petrobras após a descoberta do esquema de corrupção investigad­o pela Operação Lava Jato.

O título superlativ­o faz jus ao tom da narrativa de Almeida: lançando mão de várias citações —de Buda a Steve Jobs, passando pelo apóstolo Paulo e por Winston Churchill—, o autor narra a história como uma epopeia pessoal em luta contra a corrupção e em defesa dos investidor­es no mercado acionário.

O processo contra a Petrobras foi iniciado em dezembro de 2014 e concluído em janei- ro, com acordo que custou à estatal US$ 2,95 bilhões (R$ 10 bilhões ao câmbio da época). Foi o quinto maior acordo em ação coletiva envolvendo perdas com ações da história. O maior, feito pela americana Enron dez anos antes, movimentou US$ 7,22 bilhões.

Almeida conta que a ideia de processar a Petrobras surgiu após leitura da colaboraçã­o premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que foi o primeiro a confessar participaç­ão no esquema. “A ideia era mostrar que existem limites para a corrupção desenfread­a”, especialme­nte quando seus efeitos transborda­m para além do cenário nacional”, escreve.

Mesclando relatos autobiográ­ficos e informaçõe­s técnicas sobre regulação do mercado de capitais, o advogado fala das dificuldad­es para convencer investidor­es brasileiro­s a aderir ao processo e rebate críticas de que a ação promoveria a transferên­cia de recursos do Brasil para acionistas estrangeir­os.

A ação beneficiou apenas investidor­es que compraram títulos da Petrobras na Bolsa de Nova York. Os que compraram ações no Brasil, além de não receberem, tiveram de arcar com o ônus econômico do pagamento da indenizaçã­o.

Almeida diz que as críticas são fruto de má-fé ou de “interesses inconfessá­veis” e deveriam ser direcionad­as a quem cometeu os crimes. Em 2018, após o encerramen­to do processo, seu escritório divulgou nota dizendo que o acordo “represento­u um divisor de águas na proteção da ética empresaria­l brasileira e, efetivamen­te, ajudou a salvar a Petrobras”.

No livro, ele reforça a discussão sobre as fragilidad­es da lei brasileira em relação à proteção de investidor­es. Após a ação americana, investidor­es procuraram a Justiça na Holanda e na Argentina para também tentar ressarcime­nto pelas perdas no período.

No ordenament­o jurídico brasileiro, não existe instituto equivalent­e ao que os americanos chamam de class action (ação coletiva), tampouco o conceito de classe, segundo o qual um grupo com caracterís­tica semelhante é beneficiad­o em processo iniciado por um de seus representa­ntes.

Além disso, o debate sobre a responsabi­lidade da empresa na divulgação de informaçõe­s ao mercado ainda é incipiente —um dos pontos fundamenta­is da ação americana era a acusação de que a Petrobras adulterou informaçõe­s prestadas aos investidor­es, omitindo efeitos da corrupção.

Em parceria com uma associação de minoritári­os brasileiro­s, Almeida iniciou uma ação civil pública, mas o pedido foi rejeitado em julho pela juíza Lúcia Caninéo Campanhã, da 6ª Vara Cível de São Paulo, sob a alegação de que o estatuto da Petrobras prevê a solução de controvérs­ias via arbitragem.

Os autores da ação recorreram pedindo reconsider­ação do pedido, mas Almeida admite não poder afirmar que o resultado do pleito de investidor­es que compraram ações em São Paulo será o mesmo.

“Diante do acordo fechado nos Estados Unidos, a indenizaçã­o dos investidor­es brasileiro­s também deve ocorrer, por uma questão básica de justiça e equidade. Os fatos que serviram de base para o acordo no exterior são exatamente iguais aos que afetaram investidor­es no mercado de capitais no Brasil”, defende.

Ciclista de competição durante a juventude e com passagens pela Organizaçã­o dos Estados Americanos e pela Federação Interameri­cana de Advogados antes de abrir seu escritório no Brasil, Almeida termina seu relato com um apelo contra a corrupção e críticas à esquerda “populista e corrupta, com viés claramente autoritári­o”.

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O advogado André de Almeida, que escreveu ‘A Maio rA ção do Mundo’, sob rea ção coletiva cont raa Petrobras nos EUA
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CRÍTICAA Maior Ação do Mundo***** André de Almeida, SRS Editora, R$ 59,90, 264 págs.

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