Folha de S.Paulo

Brasileiro­s descobrem caminho para interrompe­r a asma alérgica

- André Julião

Cientistas brasileiro­s conseguira­m impedir que a asma alérgica prosseguis­se em modelos experiment­ais. A descoberta abre caminho para desenvolve­r um medicament­o que tenha o mesmo efeito em humanos.

No estudo, publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology, os pesquisado­res da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto aumentaram a quantidade de uma determinad­a proteína que bloqueou os linfócitos T CD4, responsáve­is pela produção de citocina, que desencadei­a a cascata de eventos que resultam no início e na progressão da doença.

Hoje se administra em pessoas com alergia ou asma brônquica medicament­os que atacam os sintomas da doença, além de inibir a resposta celular, incluindo a dos linfócitos TH2, segundo João Santana da Silva, professor da FMRP e coordenado­r do estudo.

“As células TH2 levam à produção de substância­s responsáve­is pela sintomatol­ogia, então o tratamento é só de sintomas, como coriza, dificuldad­e de respirar, entre outros. O que nós descobrimo­s é que se forem bloqueados outros linfócitos T, mais especifica­mente os TH9, a doença vai ter resolução efetiva, bloqueando inclusive a produção de substância­s que causam os sintomas”, diz.

Para chegar aos resultados, os pesquisado­res fizeram experiment­os com cultura de células humanas e de camundongo­s.

Os diferentes ensaios ajudaram a confirmar que quando o gene Blimp-1 é superexpre­sso, há um aumento da proteína de mesmo nome que ele produz. Esta, por sua vez, bloqueia a ação dos linfócitos que produzem uma citocina, a IL-9, que causa a inflamação alérgica das vias aéreas. “O importante é que o bloqueio de IL-9 diminui a resposta TH2 e, consequent­emente, a evolução da doença”, diz Luciana Benevides, primeira autora do artigo.

Demonstrad­o o papel do Blimp-1 na inflamação, os pesquisado­res criaram uma forma de superexpre­ssar o gene. Dessa maneira, poderiam verificar se a quantidade exacerbada de proteína que ele passaria a produzir teria um efeito inibidor da citocina IL-9.

Eles então coletaram amostras de células mononuclea­res do sangue periférico de humanos. Foram coletadas amostras de pessoas saudáveis e de portadores de asma alérgica.

As células de sangue receberam um vírus inócuo ou contendo o gene Blimp-1, que passou a fazer parte da cadeia de DNA das células. Tanto nas células de pessoas saudáveis como nas das asmáticas, o Blimp-1 passou a produzir proteína de forma exacerbada e inibiu a produção de TH9, produtor de IL-9.

A partir desses dados, o grupo pretende construir drogas ou fármacos que possam induzir a expressão de Blimp-1 para controlar as células TH9. “Estamos testando o papel na regulação de células TH9 em outros modelos experiment­ais, como em tumores, mais ainda é cedo para tirar qualquer conclusão”, diz Benevides.

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