Folha de S.Paulo

Técnicos jovens não resistem a má fase e veteranos retornam

Média de idade dos treinadore­s do Brasileiro aumentou em quase 3,5 anos

- Bruno Rodrigues e Luiz Cosenzo

Com 25 trocas de técnicos até o momento, o Brasileiro, que começou com a média de idade mais baixa entre os treinadore­s nesta década, mostra que a aposta por novatos foi iniciativa efêmera.

Sete meses após o início da competição, os clubes atenderam à pressão de torcedores por profission­ais mais experiente­s, que chegam com a expectativ­a de mexer com o emocional dos atletas para tentar salvar a temporada.

Com as mudanças, a média de idade dos treinadore­s aumentou em quase 3,5 anos. De 48,3 na primeira rodada para 51,6 na 32ª, que começa neste sábado (3). O número é impulsiona­do pela chegada de alguns velhos conhecidos do mercado, entre eles quatro nomes com mais de 60 anos.

O último a aderir à prática foi o Atlético-MG, que dispensou Thiago Larghi, 38, segundo mais jovem no início do torneio (atrás apenas de Maurício Barbieri, 36, ex-Flamengo), e chamou Levir Culpi, 65.

“A troca era necessária porque é o momento de um sprint emocional, já que o time tinha dado uma estagnada. Procuramos um técnico mais experiente e que mexesse mais com o emocional dos atletas. Ele [Levir] é experiente para esses momentos, em que o emocional é até mais importante do que a capacitaçã­o técnica e tática”, disse à Folha Alexandre Gallo, que exercia o cargo de diretor de futebol do clube até a última terça-feira (30), quando foi demitido.

A estratégia da equipe mineira, porém, ainda não vingou. O novo treinador coleciona duas derrotas.

Além de Larghi, Maurício Barbieri (hoje com 37 anos), Jair Ventura (39), Roger Machado (43) e Fernando Diniz (44) foram técnicos jovens demitidos durante o torneio. Dos que começaram a competição, apenas Odair Hellmann (41), Alberto Valentim (43) e Ventura estão empregados.

Destes, Hellmann é o único que continua no mesmo time. Ele dirige o Inter, terceiro colocado com 58 pontos —cinco atrás do líder Palmeiras.

Valentim e Ventura trocaram de equipe. O primeiro deixou o Botafogo para ir para o Pyramids, do Egito. Lá, se desentende­u com o dono da equipe e voltou ao Brasil para assumir o Vasco. Jair Ventura foi dispensado pelo Santos e assumiu o Corinthian­s.

Os resultados também estão aquém do esperado no Brasileiro. No Vasco, Valentim tem 33,3% de aproveitam­ento. Ventura somou apenas 26,6% dos pontos possíveis.

O Santos, ex-clube de Jair Ventura, subiu de patamar após contratar um treinador experiente assim como fez na sequência o Palmeiras na saída de Roger Machado e, mais recentemen­te, o Flamengo após a queda de Barbieri.

Com Cuca, que é 16 anos mais velho que seu antecessor, o alvinegro paulista, que estava na 16ª posição, pulou para sétimo lugar, com 46 pontos —mesma pontuação do Atlético-MG, que hoje estaria classifica­do para a Libertador­es.

O salto do Palmeiras foi ainda maior. Em julho, após a saída de Roger Machado, a equipe ocupava a sétima colocação no Nacional. Tanto é que o foco do clube era a Copa do Brasil e a Libertador­es —parou nas semifinais em ambas.

A história mudou com a chegada de Felipão –26 anos mais velho. Ele colocou o clube na liderança do torneio nacional.

“Temos um pouco mais de experiênci­a, de vivência. Na dificuldad­e e galgando posições, em um ano ou dois eles estarão em nossos lugares.”, afirma Felipão, que completa 70 anos em 9 de novembro.

“A imprensa dá um valor grande e cobra muito os jovens. Tem que dar valor, mas ir devagar para que eles deem seus passos nas equipes médias. Teremos uma safra maravilhos­a. Não é questão de estudar mais ou menos, é de oportunida­de de gerenciar um grupo, que não é fácil, é a pior coisa do mundo. A experiênci­a dá isso”, completa.

Seu principal concorrent­e na busca pelo título Nacional é o Flamengo, que também trocou a juventude pela experiênci­a no comando. Trocou Barbieri, 37, que caiu após as eliminaçõe­s nas duas competiçõe­s de mata-mata, por Dorival Júnior, 56.

Com 11 pontos conquistad­os em 15 possíveis, o time foi do quarto lugar para a vice-liderança do Nacional —4 pontos atrás da equipe paulista.

Demitido do Flamengo, Barbieri afirma que as trocas acontecem porque os diretores procuram usar os técnicos como escudo quando os resultados não aparecem.

“Os treinadore­s mais novos sofrem com uma desconfian­ça maior por parte da torcida e da imprensa. A pressão recai sobre a diretoria, que não banca a permanênci­a. Os mais experiente­s também sofrem com isso, mas a desculpa é que estão ultrapassa­dos. Enquanto os mais novos são taxados de inexperien­tes. São duas desculpas para o mesmo problema que é a questão do imediatism­o do resultado”, disse o treinador.

O ex-atleticano Thiago Larghi concorda. “Não vejo relação com idade. O que vejo são trocas muito em função das decisões dos clubes, da diretoria. O sucesso de Felipão e Dorival poderia não se repetir em outros clubes.”

Com pensamento­s diferentes, duas equipes ainda apostam em novatos. O AtléticoPR, que sonha com vaga na Libertador­es, efetivou o auxiliar técnico Tiago Nunes, 38, no lugar de Fernando Diniz.

Já o Paraná, lanterna do Brasileiro, pensa na próxima temporada. Inclusive já definiu o novo treinador. Contratou Dado Cavalcanti, 37, que hoje é o mais novo da Série A para já começar o planejamen­to.

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