Folha de S.Paulo

Madeiras e gradações sonoras engrandece­m Osesp com Stutzmann

Em frutífera conexão, orquestra e regente francesa releem Beethoven, Hummel e Mozart nas próximas duas semanas

- Sidney Molina

MÚSICA ERUDITA Oses pc om Nathalie Stutzmann Sáb. (3), às 16h30: Rossini, Hummel, Beethoven; qui. (8) e sex. (9), às 20h30, e sáb. (10), às 16h30: Mozart e Brahms. Na Sala São Paulo - pça. Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3667-9500. Ingr.: de R$ 50 a R$ 222. Sete anos.

Artista em residência da temporada 2013 e artista associada durante o triênio 2016-18, a contralto e regente francesa Nathalie Stutzmann tem sido uma das mais ativas parceiras da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

A ampla repercussã­o de sua atuação certamente a faz figurar como candidata à sucessão da regente titular Marin Alsop, cujo mandato terminará no final de 2019. Seria uma segunda direção feminina consecutiv­a, fato totalmente inédito em uma orquestra desse porte.

Não é necessário, entretanto, que Stutzmann venha a assumir qualquer posto fixo para continuar a qualificar a programaçã­o de concertos paulista em repertório­s como os que dirige ao longo das próximas duas semanas.

O primeiro ambienta-se na segunda e na terceira décadas do século 19. Tem a “Sétima Sinfonia” de Beethoven (1770-1827) como eixo, em diálogo com a “Abertura” da ópera “Guilherme Tell”, de Rossini (1792-1868), e a “Fantasia para Viola e Orquestra” de Johann Hummel (1778-1837).

Beethoven escreveu, estreou e regeu várias vezes a “Sétima” em período próximo ao do Congresso de Viena, cúpula internacio­nal que organizou o retorno ao poder das velhas casas monárquica­s europeias após a derrota de Napoleão.

Muitos bons regentes se perdem nessa obra, já que não é fácil lidar por longos períodos com as suas muitas repetições, a insistente pulsação marcada e os blocos sonoros intensos. O segredo de Stutzmann é enfatizar as diferentes vozes internas e controlar gradações de sonoridade, intensidad­e e andamento.

Para isso, ela contou, na quinta (1º), com inspiradas atuações de todos os solistas de madeiras da orquestra.

Na obra, flauta, oboé, clarinete e fagote —ao que se soma o corne inglês em Rossini— não são só destaques individuai­s, mas um grupo coeso, com cores precisas nas combinaçõe­s de duetos e trios.

Se no “Vivace” do primeiro movimento trompetes e percussão ainda soavam um pouco invasivos dentro da textura, o equilíbrio foi total no movimento final, justamente o mais difícil de balancear.

Momentos mais introspect­ivos, como a longa “Introdução” do primeiro movimento e o famoso “Allegretto”, também permitiram à regente acumular uma necessária densidade emocional a fim de enfrentar a longa travessia.

Já a obra para viola de Hummel —interpreta­da com afinação precisa, com expressivi­dade nas frases agudas e com graves penetrante­s pelo solista Antoine Tamestit— é um pot-pourri básico sobre árias famosas de óperas de Mozart, similar a tantos outros que se faziam no século 19.

Baseada na lenda do herói obrigado por poderosos a atirar em uma maçã colocada na cabeça do próprio filho, “Guilherme Tell” foi a última ópera escrita por Rossini. Sua “Abertura” ecoa traços de Beethoven, como a cena da tempestade da “Sinfonia Pastoral”.

Na próxima semana, Stutzmann apresentar­á programa imperdível com a “Sinfonia Concertant­e para Violino e Viola” de Mozart (17561791) e a “Primeira Sinfonia” de Brahms (1833-1897).

Mas ainda mais imperdível é a obra programada para ela reger no ano que vem: “A Paixão Segundo São Mateus”, de Bach (1685-1750). Vale a pena separar na agenda, desde já, os dias 11, 13 e 15 de abril de 2019.

O segredo de Stutzmann é enfatizar vozes distintas e controlar níveis de som, intensidad­e e andamento

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